(Domingos Amaral)
Episódio Nº 10
Coimbra, Julho de 1117
No alto da torre do castelo de Coimbra,
com a mão direita pousada numa ameia de granito, um menino de oito anos vestido
com uma bonita dalmática vermelha, observa o vasto horizonte, repleto de exércitos
muçulmanos, e tem pena de não ter conhecido bem o seu pai.
O dia nasceu há pouco, uma neblina espessa
cobre ainda os campos e o menino examina, com atenção, a linha de inimigos que
rodeia, lá em baixo, as muralhas da cidade.
Vê estandartes de múltiplas cores,
centenas de cavalos fechados em cercas, cavaleiros já equi pados
e em formatura, envoltos nos seus mantos azul-escuros e uma grande e majestosa
tenda colocada no centro do acampamento, e onde, provavelmente se encontra o
califa almorávida, Ali Yusuf.
O menino pensa no seu pai. Tem a certeza
que ele venceria qualquer batalha, mas não se lembra bem dele. Aqui lo de que se recorda é tão vago que não sabe se
tudo não passou de um sonho fantástico, construído a partir de mil histórias
que escutou.
Só viu o conde Henrique uma vez. Tinha três
anos, levaram-no pela mão e na sua memória existe apenas um quarto escuro e uma
cama enorme, onde umas barbas falantes e acinzentadas escondem um homem velho e
deitado, magro e rouco.
Lembra-se de uma mão fria e ossuda, de uma
pele descolorida, de um enjoativo cheiro a incenso e de uma sensação de dor no
seu progenitor, que soltava queixumes intermitentes. E lembra-se do sinistro
rumor que ouviu:
-
Foi envenenado...
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