quarta-feira, julho 08, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 10












Coimbra, Julho de 1117





No alto da torre do castelo de Coimbra, com a mão direita pousada numa ameia de granito, um menino de oito anos vestido com uma bonita dalmática vermelha, observa o vasto horizonte, repleto de exércitos muçulmanos, e tem pena de não ter conhecido bem o seu pai.

O dia nasceu há pouco, uma neblina espessa cobre ainda os campos e o menino examina, com atenção, a linha de inimigos que rodeia, lá em baixo, as muralhas da cidade.

Vê estandartes de múltiplas cores, centenas de cavalos fechados em cercas, cavaleiros já equipados e em formatura, envoltos nos seus mantos azul-escuros e uma grande e majestosa tenda colocada no centro do acampamento, e onde, provavelmente se encontra o califa almorávida, Ali Yusuf.

O menino pensa no seu pai. Tem a certeza que ele venceria qualquer batalha, mas não se lembra bem dele. Aquilo de que se recorda é tão vago que não sabe se tudo não passou de um sonho fantástico, construído a partir de mil histórias que escutou.

Só viu o conde Henrique uma vez. Tinha três anos, levaram-no pela mão e na sua memória existe apenas um quarto escuro e uma cama enorme, onde umas barbas falantes e acinzentadas escondem um homem velho e deitado, magro e rouco.

Lembra-se de uma mão fria e ossuda, de uma pele descolorida, de um enjoativo cheiro a incenso e de uma sensação de dor no seu progenitor, que soltava queixumes intermitentes. E lembra-se do sinistro rumor que ouviu:


 - Foi envenenado...

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