quinta-feira, julho 16, 2015

Assim Nasceu 

Portugal
 (Domingos Amaral)




Episódio Nº 17












Por isso Egas Moniz, sugeriu um arrojado plano.

- Ide vós, hoje à noite, em segredo. Levai o infante, mais dois ou três homens. Ide pela estrada do Norte, há menos mouros ali, e ide para Santa Maria da Feira.

Estavam agora na zona norte da muralha e viam-se poucas tropas, pois o califa, concentrara as suas forças a leste e a oeste da cidade, e sobretudo a sul, junto ao rio.

Havia razões para isso: Coimbra só tinha a oriente a Porta do Sol; a sueste a porta da Traição; a sudoeste a Porta do Arco; e a ocidente a Porta de Almedina. Não havendo porta a norte, era inútil atacar por aí.

Ermígio Moniz duvidou da arriscada fuga. Acreditava na resistência da cidade, protegida pelos seus ancestrais muros.

Os árabes haviam saqueado as igrejas dos arrabaldes, a de São Vicente, a de São Pedro e a de Cucufate, mas a Almedina era favorável aos que a defendiam e a alcáçova de Coimbra quase inatacável.

Além disso, grande parte da população era composta por moçárabes, leais aos cristãos desde que Sesinando recebera o governo da cidade das mãos do seu conquistador, o pai de Afonso VI, Fernando Magno.

Há mais de cinquenta anos que Coimbra era cristã e os infiéis acabariam por se cansar, como acontecera no ano anterior.

-É muito perigoso, murmurou Ermígio – E se nos apanham?

Com convicção meu pai insistiu:

 - Levam bons cavalos, rápidos, a meio da noite. É preciso salvar Afonso Henriques! O ataque final do califa está para breve!

Ermígio torceu o nariz. Transportar o jovem príncipe era uma enorme responsabilidade e ele temia falhar. Lamentou-se:

- Faz-nos falta Paio Soares e os seus conselhos.

O antigo alferes do conde Henrique e de Dona Teresa tinha-se afastado da corte do Condado Portucalense depois da morte do conde, com receio da fúria de dona Urraca, e vivia agora pacatamente nas suas terras, na Maia.

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