terça-feira, julho 14, 2015

Não podiam abandoná-la sozinha.
TACAIA GRANDE
(Jorge Amado)




Episódio Nº 283


















Naquela confusão de medo e de tristeza, os moleques riam alegremente. A cheia para eles não era uma calamidade, era estupenda diversão, aventura apaixonante. Felizes, no navio dos piratas, capitão e marinheiros.

Descarregada dos ombros de Fadul, sia Leocádia, antes de galgar, em companhia das paridas, os degraus da subida para a casa do Capitão, perguntou por Das Dores.

Vira-a carregando porcos para o morro, mas quando Altamirando passara diante da casa de farinha indagando pela filha, estava desacompanhado.

Não podiam abandoná-la sozinha, sem recursos, na dependência da volta do marido.

Fadul e Tição entreolharam-se e, sem trocar palavra, dirigiram-se para a margem oposta, de onde tinham acabado de chegar.

20

Tão ansiosos, o turco e o negro não escutaram os gritos de
Diva, perdidos na zoeira da enchente. Gritos altos, contidos soluços: trazia nos braços o corpo da cadela Oferecida que se afogara ao tentar acompanhá-la.

Diva se atirara na água para atravessar o rio e ser de auxílio à família no outro lado, não agüentava ficar à espera de notícias.

Não notou que a cadela a seguira desde a casa do Capitão. Somente ao chegar à outra margem, e ao estender a vista pelos arredores, se deu conta, tarde demais.

A correnteza arrastara Oferecida para o fundo e a arremessara contra as pedras submersas. Diva enxergou o sangue borbulhando, antes de ver o corpo que boiou mais adiante num derradeiro estremeção.

Conseguiu alcançá-lo. Diva nadava igual a um peixe, não era por acaso uma sereia? A pancada abrira a cabeça de Oferecida.

Diva não permitiu que o rio a levasse de cambulhada com as criações.

No regresso de Tição, cavaram um buraco na mesma colina onde ficava o cemitério e ali a enterraram, assistidos por um cortejo de moleques.

Alma Penada ganiu durante horas, postado junto às pedras com que marcaram o local da cova.

21

Os corpos de Cão e de seu Cícero Moura foram localizados bem mais abaixo no curso do rio, presos a montões de baronesas.

Avistara-os, à tarde, o capitão Natário da Fonseca, que acorria ao chamado de Zilda, varando a estrada.

Na Fazenda da Atalaia, Edu tivera de varejar as roças à procura de Natário que acompanhava o coronel Boaventura Andrade numa inspecção aos cacausais: a floração sofria a valer com as chuvas, o perigo prolongava-se.

 Caras fechadas, o Coronel e o Capitão arrenegavam o mau tempo, remoíam prejuízos.

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