quarta-feira, julho 29, 2015

Papa Francisco. Um homem bom.
Não acredito no que

reza o Papa Francisco
















Não, não sou eu que digo isto. Quem o diz é Pedro Tadeu, jornalista do Diário de Notícias, porque deixou de acreditar em Deus aos nove anos de idade quando perdeu o pai num fortuito acidente de automóvel e agora, 42 anos mais tarde, continua sem acreditar.

Felizmente, no que a mim diz respeito, não foi preciso perder o meu pai. Nunca acreditei, por muito que tivesse recebido uma educação religiosa que incluiu mesmo um colégio jesuíta e as orações que a minha mãe me ensinou na hora do deitar, à cabeceira da cama, era eu muito menino.

Se o meu pai tivesse sido vítima de um acidente de automóvel tê-lo-ia chorado sem envolver Deus como culpado da minha dor.

A ideia de Deus é “vendida” de uma forma ardilosa com mentiras e promessas que mais tarde as pessoas são obrigadas a desmontar, umas naturalmente, outras com muita desilusão à mistura e as restantes ficam agarradas a elas completamente bloqueadas.

Pedro Tadeu, foi confrontado "na sua candura infantil pela crueldade divina, como ele diz, escondida por um mistério de fé, cínico na sua transcendência inumana".

Se Deus existia, então ou era mau ou indiferente às agruras do Homem e da Mulher. Por essa razão mais valeria ignorarmos Deus. Mais valeria, seguramente, sermos todos órfãos de Pai” – diz Pedro Tadeu

“Devemos tentar encontrar o divino em nós, na capacidade colectiva de construirmos um presente digno para as nossas vidas e um futuro esperançoso para a perpetuação da humanidade...” continua ele.

Não, também não é dentro de nós que devemos tentar encontrar o divino, basta-nos a nossa humanidade com o seu natural sentido de justiça, bondade, e apelo à razão e à formação cívica.

Não há outra forma para lutar contra instintos de ódio, ciúme, vingança, injustiças, ganância, que não seja tentando construir uma sociedade justa e democrática e depois, cumprir e fazer cumprir a lei. 

Tão simples e complicado quanto isto...

A muleta da religião, das contrapartidas no outro mundo, na recompensa celeste para os bons e o castigo do inferno para os maus, já sabemos o que dá quando nos lembramos das vinte virgens que esperam, no outro mundo, os combatentes terroristas que morrem por Alá.

Púnhamos fim a este sentimento de orfandade que tantos carregam desiludidos e abandonados por Deus, revoltados, porque lhes disseram que ele era omnisciente, omnipresente, omnipotente, que tudo sabia, que tudo podia e afinal deixou matar o pai de Pedro Tadeu...

Coitado do Deus, ele não deixou matar nada nem ninguém porque ele nada sabe, nada pode, nada controla e, acima de tudo, nem sequer existe.

É uma criação da nossa mente em obediência a uma necessidade que terá sido fundamental à sobrevivência da nossa espécie ao longo de milhões de anos: acreditar, acreditar naquilo que nos diziam a nós, seres frágeis durante demasiados anos da nossa infância.

Acreditar para sobreviver, o dilema terrível que fez com que o nosso cérebro inscrevesse essa ordem dentro dele: acredita!

Não disseram ao cérebro em que acreditar, ele apenas registou o acreditar, o hardware. O software ficou para a inteligência dos homens. Cada um que decida no que deve acreditar, em quem deve acreditar e, para isso, foi-lhe fornecida a razão e a inteligência.

Primeiro, disseram-lhe para acreditar que se ele cortasse a cabeça a uma cabra iria chover, e ele acreditou...

Mais tarde disseram-lhe para acreditar num Deus todo-poderoso, senhor da vida e da morte e ele voltou a acreditar e continua perigosamente a acreditar... e hoje estamos confrontados com o Estado Islâmico que pretende estabelecer um califado de terror em todo o Norte de África, numa primeira fase, em nome de Deus...

Eu acho que não há quem antipatize com o Papa Francisco e não aprecie os seus discursos apaixonados contra a exploração capitalista, defesa do acesso ao trabalho, denúncia dos atentados contra a natureza e muito mais mas, chegados aqui, eu paro.

As suas rezas são a repetição monocórdica de ladainhas inúteis, as mesmas que os católicos ouvem há séculos e séculos e que as beatas balbuciam pelos cantos das igrejas, de tal forma que mesmo que Deus existisse estaria já farto de ouvir.

Como é que um homem inteligente, crítico, sensível e ainda por cima honesto, corajoso e simpático, em vez de dizer o óbvio, de que a fé em Deus vem matando e provocando sofrimento à humanidade, cai nesta história das rezas...

Na qualidade de "chefe de um exército" que alimenta a guerra, apelar à reza é o mesmo que tocar à concentração das tropas...

Isso está para além da minha compreensão ou talvez não. 

Faz parte das armadilhas e contradições que o nosso cérebro desenvolveu num processo de sobrevivência ao longo de milhões de anos que, bem vistas as coisas, dificilmente poderia ser uma estrada linear.
   

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