Papa Francisco. Um homem bom. |
Não
acredito no que
reza o
Papa Francisco
Não,
não sou eu que digo isto. Quem o diz é Pedro Tadeu, jornalista do Diário de
Notícias, porque deixou de acreditar em Deus aos nove anos de idade quando
perdeu o pai num fortuito acidente de automóvel e agora, 42 anos mais tarde,
continua sem acreditar.
Felizmente,
no que a mim diz respeito, não foi preciso perder o meu pai. Nunca acreditei,
por muito que tivesse recebido uma educação religiosa que incluiu mesmo um
colégio jesuíta e as orações que a minha mãe me ensinou na hora do deitar, à
cabeceira da cama, era eu muito menino.
Se o
meu pai tivesse sido vítima de um acidente de automóvel tê-lo-ia chorado sem
envolver Deus como culpado da minha dor.
A ideia
de Deus é “vendida” de uma forma ardilosa com mentiras e promessas que mais
tarde as pessoas são obrigadas a desmontar, umas naturalmente, outras com muita
desilusão à mistura e as restantes ficam agarradas a elas completamente
bloqueadas.
Pedro
Tadeu, foi confrontado "na sua candura infantil pela crueldade divina, como ele diz, escondida por um
mistério de fé, cínico na sua transcendência inumana".
“Se Deus existia, então
ou era mau ou indiferente às agruras do Homem e da Mulher. Por essa razão mais
valeria ignorarmos Deus. Mais valeria, seguramente, sermos todos órfãos de Pai”
– diz
Pedro Tadeu”
“Devemos
tentar encontrar o divino em nós, na capacidade colectiva de construirmos um
presente digno para as nossas vidas e um futuro esperançoso para a perpetuação
da humanidade...” continua ele.
Não,
também não é dentro de nós que devemos tentar encontrar o divino, basta-nos a
nossa humanidade com o seu natural sentido de justiça, bondade, e apelo à razão e à formação cívica.
Não há
outra forma para lutar contra instintos de ódio, ciúme, vingança, injustiças, ganância, que não seja tentando construir uma sociedade justa e democrática e depois,
cumprir e fazer cumprir a lei.
Tão simples e complicado quanto isto...
Tão simples e complicado quanto isto...
A
muleta da religião, das contrapartidas no outro mundo, na recompensa celeste
para os bons e o castigo do inferno para os maus, já sabemos o que dá quando
nos lembramos das vinte virgens que esperam, no outro mundo, os combatentes
terroristas que morrem por Alá.
Púnhamos
fim a este sentimento de orfandade que tantos carregam desiludidos e
abandonados por Deus, revoltados, porque lhes disseram que ele era omnisciente,
omnipresente, omnipotente, que tudo sabia, que tudo podia e afinal deixou matar
o pai de Pedro Tadeu...
Coitado
do Deus, ele não deixou matar nada nem ninguém porque ele nada sabe, nada pode, nada
controla e, acima de tudo, nem sequer existe.
É uma
criação da nossa mente em obediência a uma necessidade que terá sido
fundamental à sobrevivência da nossa espécie ao longo de milhões de anos:
acreditar, acreditar naqui lo que nos
diziam a nós, seres frágeis durante demasiados anos da nossa infância.
Acreditar
para sobreviver, o dilema terrível que fez com que o nosso cérebro inscrevesse
essa ordem dentro dele: acredita!
Não
disseram ao cérebro em que acreditar, ele apenas registou o acreditar, o
hardware. O software ficou para a inteligência dos homens. Cada um que decida
no que deve acreditar, em quem deve acreditar e, para isso, foi-lhe fornecida a
razão e a inteligência.
Primeiro,
disseram-lhe para acreditar que se ele cortasse a cabeça a uma cabra iria
chover, e ele acreditou...
Mais
tarde disseram-lhe para acreditar num Deus todo-poderoso, senhor da vida e da
morte e ele voltou a acreditar e continua perigosamente a acreditar... e hoje
estamos confrontados com o Estado Islâmico que pretende estabelecer um califado
de terror em todo o Norte de África, numa primeira fase, em nome de Deus...
Eu acho
que não há quem antipatize com o Papa Francisco e não aprecie os seus discursos
apaixonados contra a exploração capitalista, defesa do acesso ao trabalho,
denúncia dos atentados contra a natureza e muito mais mas, chegados aqui , eu paro.
As suas
rezas são a repetição monocórdica de ladainhas inúteis, as mesmas que os
católicos ouvem há séculos e séculos e que as beatas balbuciam pelos cantos das
igrejas, de tal forma que mesmo que Deus existisse estaria já farto de ouvir.
Como é
que um homem inteligente, crítico, sensível e ainda por cima honesto, corajoso
e simpático, em vez de dizer o óbvio, de que a fé em Deus vem matando e provocando sofrimento à humanidade, cai
nesta história das rezas...
Na qualidade de "chefe de um exército" que alimenta a guerra, apelar à reza é o mesmo que tocar à concentração das tropas...
Isso
está para além da minha compreensão ou talvez não.
Faz parte das armadilhas e
contradições que o nosso cérebro desenvolveu num processo de sobrevivência ao
longo de milhões de anos que, bem vistas as coisas, dificilmente poderia ser
uma estrada linear.
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