terça-feira, julho 28, 2015

Queira Deus que não se alastre
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)


Episódio Nº 296



















Músicos, mágico amador, afluência de pessoas de fora e sobretudo a presença do fazendeiro levaram a festa do barracão àquelas culminâncias.

Haviam trazido e colocado num extremo do salão a cadeira de barbeiro de Dodô Peroba para o Coronel nela se sentar.

Nas imediações do bar improvisado para a venda de cachaça, conhaque, licor de jenipapo, a cargo de Durvalino, sob a discreta vigilância de Fadul.


Ninguém se atrevera a tirar Sacramento para dançar mas na hora da quadrilha, ao ver Castor organizando os pares, seu Carlinhos Silva, por não ser dali, não estando assim a par de certas particularidades, e tendo se agradado do rosto e do jeito modesto da tabaroa que tanto o aplaudira, a ela se dirigiu convidando-a a compor com ele o baile dos lanceiros.

Sozinha no banco, pois Zilda já se fora pelo braço do Capitão assumir seu posto na quadrilha, Sacramento viu-se confusa, gaguejante, os olhos baixos, perdida na rua da amargura.

Parado, mão estendida, seu Carlinhos aguardava. Então o coronel Boaventura, que acompanhava a cena com um interesse sorridente, levantou-se da cadeira de barbeiro:

- Me desculpe, Carlinhos, mas a dama já tem compromisso, o lanceiro dela é esse seu amigo.

Não acreditando em seus ouvidos, Sacramento ergueu a vista, sorriu acanhada para o Coronel de pé a esperá-la. Pernas trêmulas, ela o acompanhou à roda da quadrilha sob olhares de esguelha dos abelhudos.

Seu Carlinhos Silva entendeu, saiu à cata de Bernarda: tarde demais, a rapariga já tinha par. Contentou-se com a senhora Valentina, melhor ela que ninguém.

O negro Tição bateu palmas chamando a atenção, a dança dos lanceiros ia começar.

Elevou a voz, falou em franciú.

6

Diva revolteava nos passos da quadrilha, ufana com a picardia de Tição, também ele tinha parte com o diabo. Mas Tição, que a conhecia e adivinhava, sabia-a inquieta, preocupada, por mais ela procurasse disfarçar. Seu pensamento fugia da festa para a casa dos pais no outro lado do rio.

Vanjé e Ambrósio não se encontravam no barracão. Na feira, pela manhã, vendendo os produtos dos roçados, Ambrósio queimava de febre. Zilda, que parara para comprar e conversar, ao velo assim desfeito teve um mau pressentimento.

Aconselhou Vanjé a levar o marido para casa e dar-lhe um suador o quanto antes.

Quem sabe ainda poderia limpar-lhe o sangue, botar para fora os fluidos maus?

Na barulhenta mesa de almoço, repleta de convivas vindos para a festa, Zilda falou ao Capitão: pelo jeito Ambrósio pegara a febre:

- Queira Deus não se alastre.


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