Queira Deus que não se alastre |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 296
Músicos, mágico amador, afluência de
pessoas de fora e sobretudo a presença do fazendeiro levaram a festa do
barracão àquelas culminâncias.
Haviam trazido e colocado num extremo do salão
a cadeira de barbeiro de Dodô Peroba para o Coronel nela se sentar.
Nas imediações do bar improvisado para a
venda de cachaça, conhaque, licor de jenipapo, a cargo de Durvalino, sob a discreta
vigilância de Fadul.
Ninguém se atrevera a tirar Sacramento
para dançar mas na hora da quadrilha, ao ver Castor organizando os pares, seu
Carlinhos Silva, por não ser dali, não estando assim a par de certas particularidades,
e tendo se agradado do rosto e do jeito modesto da tabaroa que tanto o
aplaudira, a ela se dirigiu convidando-a a compor com ele o baile dos
lanceiros.
Sozinha no banco, pois Zilda já se fora
pelo braço do Capitão assumir seu posto na quadrilha, Sacramento viu-se confusa,
gaguejante, os olhos baixos, perdida na rua da amargura.
Parado, mão estendida, seu Carlinhos aguardava.
Então o coronel Boaventura, que acompanhava a cena com um interesse sorridente,
levantou-se da cadeira de barbeiro:
- Me desculpe, Carlinhos, mas a dama já
tem compromisso, o lanceiro dela é esse seu amigo.
Não acreditando em seus ouvidos,
Sacramento ergueu a vista, sorriu acanhada para o Coronel de pé a esperá-la.
Pernas trêmulas, ela o acompanhou à roda da quadrilha sob olhares de esguelha dos
abelhudos.
Seu Carlinhos Silva entendeu, saiu à cata de
Bernarda: tarde demais, a rapariga já tinha par. Contentou-se com a senhora
Valentina, melhor ela que ninguém.
O negro Tição bateu palmas chamando a
atenção, a dança dos lanceiros ia começar.
Elevou a voz, falou em franciú.
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Diva revolteava nos passos da quadrilha,
ufana com a picardia de Tição, também ele tinha parte com o diabo. Mas Tição,
que a conhecia e adivinhava, sabia-a inqui eta,
preocupada, por mais ela procurasse disfarçar. Seu pensamento fugia da festa
para a casa dos pais no outro lado do rio.
Vanjé e Ambrósio não se encontravam no
barracão. Na feira, pela manhã, vendendo os produtos dos roçados, Ambrósio
queimava de febre. Zilda, que parara para comprar e conversar, ao velo assim
desfeito teve um mau pressentimento.
Aconselhou Vanjé a levar o marido para
casa e dar-lhe um suador o quanto antes.
Quem sabe ainda poderia limpar-lhe o
sangue, botar para fora os fluidos maus?
Na barulhenta mesa de almoço, repleta de
convivas vindos para a festa, Zilda falou ao Capitão: pelo jeito Ambrósio
pegara a febre:
- Queira Deus não se alastre.
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