quarta-feira, agosto 19, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 36

















- Pode lá ser, o Gelmires ressona na sua tenda! -  exclamou.

Dona Teresa insistiu: depois de a deixar o arcebispo acusaria Dona Urraca de ter envenenado o conde Henrique, oito anos em Astorga, inflamando assim os ódios portucalenses, que correriam a cercar e a derrotar a megera, matando-a para saciar a sua senda de vingança.

Terminada a golpada, um entusiasmado Gelmires colocaria no trono o seu protegido, o filho da rainha, Afonso Raimundes.

 - O arcebispo sabe que haveis usado peçonha com meu marido Henrique, para o castigar por não vos dar a relíquia da Terra Santa!

Dona Urraca ficou espantada e Dona Teresa continuou:

- Sabeis bem quanto Gelmires deseja relíquias, no passado já nos roubou as de Braga. Ele quer descobrir a que meu marido escondeu e depois entregá-la a vosso filho, coroando-o imperador!

Petrificada, a rainha Urraca perguntou à irmã:

- Como sabeis?

Não vos esqueceis de que meu amigo Fernão é filho de Pedro Froilaz, o percetor do vosso filho Raimundes e grande aliado de Gelmires. Estão unidos, só vos o impedis!

Dona Urraca, desesperada, enfureceu-se:

 - Miseráveis, canalhas!

A rainha de Leão e Castela desenvolvera ao longo da vida duas paixões: uma pela traição, outra pela desconfiança.

Incapaz de não desconfiar, habituara-se a trair, desconfiava que todos eram iguais a ela.

- Porque me revelais essa vil intriga? – perguntou.

Dona Teresa explicou: odiava o Gelmires, por causa das querelas entre Compostela e Braga e do roubo das relíquias que ele praticara nessa cidade.

Entre dois males, preferia que a irmã se mantivesse rainha e lhe concedesse a regência dos territórios que lhe pertenciam, como Toronho, Celanova, Línea, Astorga e Zamora.

- Antes isso que o Gelmires vitorioso e vosso filho Afonso Raimundes imperador, pois eles nunca me darão a Galiza – constatou.

A rainha Urraca, embora compreendesse a lógica perversa daquelas preferências da irmã, continuava incrédula, o que levou Dona Teresa a recordar o passado de forma vaga, mas subtilmente ameaçadora.

- Também eu estava em Astorga quando meu marido morreu...

Além disso Gelmires lembra-se da conspiração de Toledo, contra o nosso irmão Sancho. Se vos matam, a próxima serei eu.

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