terça-feira, agosto 25, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 41



















A minha prima Raimunda revelou-me que nessa noite, ainda em Guimarães, foi pela primeira vez ter à cama do príncipe.

Afonso Henriques ficava num quarto sozinho, enquanto ela dormia connosco.

Quando a ouviu entrar, ele franziu a testa, mas ela justificou-se:

 - O senhor está constipado, ressona muito, não consigo adormecer.

Era mentira mas Afonso Henriques acreditou na minha prima, deixou-a subir para a cama e ficou ainda mais surpreendido quando ela o beijou na boca.

 - Porque me haveis dado um beijo? – perguntou.

A minha prima disse-lhe que queria ser amiga dele, em degredo, sem nós sabermos e que podia dar-lhe beijos todas as noites.

Não temos idade para essas coisas – disse o príncipe.

A atrevida da minha prima logo lhe retorquiu:

 - Mas um dia vamos ter, e nesse dia ides gostar de me ter aqui.

Convencido, Afonso Henriques permitiu que ela lhe desse mais um beijo e depois ficaram calados no escuro. Até que ela perguntou:

 - Haveis achado a Chamoa bonita?

Afonso Henriques fingiu que já estava a dormir e não respondeu, mas na verdade continuava acordado, e assim ficou mesmo depois de Raimunda adormecer.

Naquela noite, o seu espírito navegava entre dois opostos. A preocupação por concluir que o Trava, um espírito afiado, lhe era hostil, e a excitação, quando lhe vinham à lembrança aqueles cabelos cor de mel e aquele sorriso gracioso de menina.

O meu melhor amigo não sabia resolver o dilema que o dividia, e tinha muita pena que Chamoa fosse sobrinha do trava. Sempre teve.

Só que a pena é um sentimento bonito, mas nunca é muito forte.





Rio Nabão, Março de 1120


Só muitos anos depois dos acontecimentos que de seguem é que vim a saber quem era a mulher de negro, ou a bruxa, como lhe chamavam os medrosos.

Mem é que a conhecia, foi a ele que ela descreveu estes fragmentos de vida. O meu relato, neste caso é, pois, impreciso.

Mesmo assim é importante contá-los aqui, pois revelaram-se fundamentais para o reino de Portugal nascer.

A bruxa é que nos ligou a todos, como repetia sempre Zaida.

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