Jean Claude Juncker |
Um Apelo à coragem
Para mim, a Europa é e sempre foi uma comunidade de
valores. Trata-se de algo de que devemos orgulhar-nos, mas só muito raramente o
fazemos. Dispomos dos padrões mais elevados do mundo em matéria de asilo. Nunca
recusaremos a entrada às pessoas que nos procuram em busca de protecção. Estes
princípios estão consagrados na nossa legislação e nos nossos Tratados, mas
estou preocupado com o facto de estarem cada vez mais ausentes dos nossos
corações.
Quando falamos de migração, falamos de pessoas. Pessoas
como eu ou você, mas que não são iguais a nós porque não tiveram a sorte de ter
nascido numa das regiões mais ricas e mais estáveis do mundo. Falamos de
pessoas que tiveram de fugir da guerra na Síria, do terror instaurado pelo
Estado Islâmico na Líbia e da ditadura na Eritreia.
O que me preocupa é observar o ressentimento, a rejeição
e o medo manifestados por alguns sectores da população relativamente a essas
pessoas. Atear fogo aos campos de refugiados, afastar embarcações dos cais,
infligir violência física aos requerentes de asilo ou ignorar estas pessoas
pobres e indefesas: isto não é a Europa.
O que me preocupa é ouvir políticos, tanto de esquerda
como de direita, alimentar um populismo que apenas conduz à revolta e não a
soluções.
Os discursos de ódio e as declarações irreflectidas que ameaçam uma
das nossas maiores realizações – o espaço Schengen sem fronteiras internas –
não são a Europa.
A Europa são os
reformados de Calais que permitem aos migrantes ouvir música e carregam os seus
telemóveis para estes poderem telefonar para casa.
A Europa são os estudantes de Siegen que abrem o seu campus universitário para acolher os requerentes de asilo que não têm onde ficar. A Europa é o padeiro de Kos que distribui o seu pão às pessoas famintas e cansadas. Esta é a Europa em que quero viver.
Obviamente, não há
uma resposta fácil nem única aos desafios colocados pela migração. É tão
irrealista pensar que poderíamos simplesmente abrir as nossas fronteiras a
todos os nossos vizinhos como imaginar que a Europa pode rodear-se de uma
muralha para se proteger de toda a angústia, medo e miséria.
O que é claro,
todavia, é que não existem soluções nacionais. Nenhum Estado-Membro da União
Europeia pode fazer face à migração de modo eficaz agindo isoladamente.
Precisamos de uma estratégia europeia sólida. E precisamos dela agora.
Jean Claude Junker
Nota - O que Junker não diz e não pode dizer é que fomos nós, europeus, nós, americanos, que agora passam ao lado dos refugiados por estarem demasiado longe, que destabilizámos completamente, do ponto de vista político, os países onde estas pessoas viviam provocando o caos e anarquia interna, mudando o rumo das suas vidas para muito pior, com o aparecimento do Estado Islâmico que persegue e mata os cidadãos. Não só temos obrigação de os receber como os devíamos indemnizar pelos transtornos sociais e humanos que lhes provocámos com as nossas ingerências.
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