O futebol tem muito de paixão e loucura... |
Jorge Jesus
Narcisista, tal como Narciso do mito
grego, Jorge Jesus apaixonou-se por si próprio quando se viu ao espelho pela
primeira vez.
Há quem lhe chame egocêntrico. Um dia,
num barco prestes a afundar-se, irá tentar convencer toda a gente que deve ser
ele o primeiro a entrar no bote salva-vidas porque se acha mais dotado que
todos os outros.
A sua longa e farta cabeleira, que tem
oscilado entre o branco e o cinzento, é permanentemente afagada pelos dedos da
mão num gesto mais próprio da natureza feminina para chamar as atenções.
O discurso condiz e é coerente com o
gesto mas ouvi-lo falar em permanente auto elogio, numa difícil e defeituosa
articulação, quase em guerra com as palavras, para mim, chega a ser penoso
naquelas intermináveis entrevistas que são agora habituais no fim dos jogos.
Sou insuspeito porque ele é o treinador
do meu Sporting mas eu não sou como o Dr. Eduardo Barroso, Prof. Universitário,
especialista em cirurgia de transplante de fígados e comentador de futebol num
painel na televisão, que é de tal forma apaixonado pelo seu Clube que substituiu
as críticas contundentes ao Jorge Jesus, treinador do Benfica pelos elogios ao Jorge Jesus,
treinador do seu Sporting.
Como pessoa detestava o treinador do
Benfica e o mesmo se passa agora com a pessoa do treinador do Sporting.
Não sou capaz de ultrapassar aspectos de
carácter de jogadores, treinadores ou presidentes por serem eles do meu clube.
O futebol deu a Jorge Jesus um palco com
uma dimensão que ele não encontraria em qualquer outra actividade e agora,
tendo saltado para o outro lado da circular, para o seu Sporting, que foi do
seu pai e onde ele próprio jogou, com um presidente à sua medida e jeito,
sente-se cada vez mais como peixinho na água.
As suas recentes afirmações sobre o seu
anterior clube que atingiram inevitavelmente o colega que lhe sucedeu, Rui
Vitória, foram, mais uma vez, de uma deselegância total.
O homem não bebeu mesmo chá nenhum em
pequenino, talvez porque tenha entornado o bule.
Com toda a honestidade, eu não sei se ele
é o grande treinador que dizem ser, o melhor de todos.
Nos últimos anos ouvi os comentadores
fazerem-lhe críticas favoráveis, umas, outras desfavoráveis e, pelo meio perdeu
algumas finais, teste máximo a jogadores e treinador, mas ganhou em seis anos
três campeonatos, dois dos quais seguidos e nem sequer é justo afirmar que teve
a seu favor o demérito dos seus dois grandes rivais.
Para mim, ele está a começar agora do
zero com a vantagem, relativamente ao seu antecessor, que tem reforços que
Marco Silva, não teve.
A dificuldade, no que me diz respeito, é
conciliar o meu sportinguismo, o desejo e satisfação de que ele ganhe, com a
antipatia que nutro pelo treinador do meu clube como se já não fosse suficiente
o que sinto pelo Bruno de Carvalho, presidente, que começou este ano sem
largar o lugar no banco dos suplentes mas mais calmo e silencioso.
Dois galos na mesma capoeira... sinceramente,
não bastava um?!...
Sentimentos são sentimentos, podemos
silenciá-los mas não negá-los. Não gosto de nenhum daqueles senhores,
independentemente de virem a ter muito êxito nas suas funções e oxalá que sim, para bem do meu Sporting que, coitado, não tem culpa nenhuma.
Provavelmente, nenhum outro sportinguista
viverá este dilema sentimental com o qual me vou debater nos próximos tempos esperando que, jornada após jornada, as coisas se atenuem... afinal sempre são 65
anos a gostar de um Clube.
O Sporting acabou agora de ganhar 1-0 ao
Benfica e conqui star a Super Taça no Algarve.
Triunfou merecidamente confirmando as
boas indicações que tinha dado nos jogos de preparação e de apresentação aos
sócios com o Roma em que também ganhou.
Disse, acima, que para mim Jorge Jesus
está a começar do zero, e embora seja cedo, ao contrário dos espanhóis, eu gosto de ver bons princípios...
Iremos acompanhando, inevitavelmente, o treinador do meu Clube a quem concedi o benefício da dúvida sobre o seu real valor e nem sequer terei que dar o braço a torcer porque não lhe neguei esse valor.
Começou bem: a equipa a jogar com espírito ganhador e jogadores motivados num futebol quase todo agradável de ver.
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