quarta-feira, agosto 05, 2015

O que lhe dava vantagem junto dos que julgavam saber alguma coisa...

Minha 

Natureza






Todos sabem, com certeza, a história do escorpião e do elefante que lhe deu uma boleia para atravessar o rio.
O elefante sabia que a picada do escorpião era fatal mas não desconhecia, igualmente, que ele não sabia nadar e se o mordesse durante a viagem morreria afogado.
 Sentiu-se, pois, descansado e mandou o escorpião subir para o seu enorme dorso confiante de que a viagem iria decorrer bem.
A meio do percurso, no entanto, o escorpião mordeu o elefante e este, já no estertor da morte, ainda conseguiu perguntar ao escorpião:
- Por que me mordeste se agora vais morrer afogado?
 - O que queres? – Esta é a minha natureza!
Poderia o escorpião ter poupado a vida do elefante e a dele própria adoptando um comportamento ditado pelo mais elementar bom senso, aquele que levou o elefante a dar-lhe boleia?
- Não! O escorpião é escravo do seu código genético e os seus comportamentos não lhe pertencem, são da espécie.
 - E nós, seremos verdadeiramente livres, senhores dos nossos comportamentos?
- Não, julgo mesmo que a nossa margem de liberdade e independência é muito estreita e isto tem sido assunto de reflexão de grandes pensadores, filósofos, sociólogos e humanistas mas, cada um de nós pode, nestas fases já avançadas da vida, olhar também para trás, para o seu passado e tentar descortinar o que realmente houve de autêntico, genuíno, da sua própria responsabilidade, se é que alguma coisa houve.
Os estudiosos falam no homem e na “sua circunstância” o que é verdade mas relativo... condiciona mas não determina.
Eu e o meu irmão, já falecido, tivemos a mesma “circunstância”: os mesmos pais, a mesma família, a mesma educação, iguais condições para crescer e desenvolver, mas o resultado foi muito diferente, como acontece com tantos irmãos por esse mundo fora.
Noutros casos, a mesma “circunstância” determina percursos paralelos, idênticos, como se houvesse uma espécie de “marca da casa”.
Mas, na minha própria vida, que poderia ter eu feito para ser diferente da minha própria natureza ou, simplesmente, seu humilde servo?
- De certa maneira não somos todos nós um pouco como o escorpião?
O povo costumava dizer, no tempo em que vivíamos mais próximos uns dos outros e nos conhecíamos melhor, que lhe estava na “massa do sangue”, como forma de desculpar o autor dos maus comportamentos.
Por isso, a sociedade defendeu-se e criou um Código Penal, juízes, tribunais e prisões. Entre nós, não há lugar a escorpiões mas como eles existem e não morrem afogados, vão para a cadeia.
Mas estes são casos extremos do comportamento humano, anti-sociais, que não fazem parte da generalidade das vidas das pessoas... mas os outros comportamentos, os que tiveram a ver apenas connosco próprios, com a nossa própria vida?...
... Quantas vezes as coisas terão corrido mal por termos seguido a nossa natureza e, noutros casos, por tê-la contrariado?
- Nunca o saberemos... o escorpião tem a vida mais facilitada... 

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