terça-feira, setembro 01, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 47



















Aperaltado numa luxuosa dalmática escarlate com um belo punhal à ilharga, no topo de cujo cabo se destacava uma pérola, Paio Soares parecia, não seu pai, mas seu amo e senhor.

Rico homem da Maia e antigo Alferes do conde D. Henrique, Paio Soares afastara-se de Dona Teresa há uns anos, receando as ameaças da rainha Urraca, mas agora que esta morrera havia quem dissesse que Dona Teresa o tentava aliciar de novo e por isso o convidara para passar a Páscoa em Viseu.

Embora alguns ainda recordassem a recusa de ir a Lanhoso ajudar a mãe do príncipe, seis anos antes, não havia nenhuma humilhação irrazoável, nem ofensa pessoal entre ele e Fernão Peres.

Todos estimavam aquele nobre portucalense, respeitavam com respeito as suas façanhas de combatente contra os mouros e sabiam também que dispunha dos maiores territórios do Condado.

Além disso, estava viúvo, pois morrera-lhe a esposa há dois anos, e do seu casamento religioso haviam nascido duas raparigas, ambas mortas em criança.

Aos quarenta anos, aquele era um homem poderoso, mas solitário, e era esse vazio que Dona Teresa visava preencher, procurando para ele uma esposa capaz de dar-lhe um varão legítimo.

A nova política matrimonial de Dona Teresa e do Trava era límpida e interesseira: casar os nobres do Sul da Galiza com as meninas nobres de Entre Douro e Minho, e os nobres de Entre Douro e Minho com as meninas nobres do Sul da Galiza.

Uniam-se assim as duas regiões que o Rio Minho separava e Dona Teresa e o seu Trava tornavam-se ainda mais poderosos e candidatos a preencher o vazio criado pelo recente falecimento da rainha dona Urraca de Castela, Leão e Galiza, que entregara a alma ao criador no mês anterior.

A infame rainha, meia irmã de Dona Teresa, deixara feridas espalhadas pelos reinos da Hispânia, daquelas difíceis de sarar.

Embora o seu óbvio sucessor fosse o filho Afonso Raimundes (que em breve seria coroado como Afonso VII) havia dúvidas quanto ao destino final da Galiza e do Condado Portucalense.

Seria possível unirem-se, num novo reino, como os irmãos Moniz de Ribadouro jurava ser o sonho do falecido conde Henrique?

Ou submeter-se-iam em separado ao novo rei?

Fosse qual fosse o futuro, os casamentos arranjados por dona Teresa fariam parte dele, e, no meu caso, não me possa queixar disso, embora haja quem possa.

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