(Domingos Amaral)
Episódio Nº 52
Zaida absorvia como uma
esponja as influências espirituais de Roma que a rodeavam, ao contrário de
Fátima e da mãe. Se havia fé que ainda resistia em Zulmira era em Alá.
O seu marido Taxfin não
voltara, nem nunca mais dera notícias. Embora o soubesse vivo, sabia igualmente
que ele já não era governador de Córdova e que nunca mais organizara qualquer
expedição a Oeste.
Nos primeiros anos daquela
longa espera ainda se perguntara porquê. Torturada por tanto o desejar,
questionara-se sobre o amor que lhe tinha o marido e a sua recusa de voltar.
Mas com o tempo essas
questões haviam perdido a pertinência, e em Viseu limitava-se em tentar manter
as filhas a salvo de sarilhos.
Foi por isso que naquele
momento, e para evitar que a conversa entre Fátima e Raimunda azedasse ainda
mais, Zulmira perguntou:
- E o vosso amado Afonso Henriques já chegou?
Ainda não o vi.
Raimunda ficou de pé atrás,
respirou fundo e retorqui u.
- Deve estar a vestir-se, virá com o Lourenço
e com os irmãos. Mas para que quereis saber dele?
Fátima largou uma maldosa
gargalhada.
O principezinho do Condado
veio ver as moças, e a irmã, a Sancha Henriques, os moços!
Dona Teresa casá-los os dois
e depressa!
Fazendo uma careta jocosa
continuou:
- Agora que a rainha Urraca esticou o pernil,
há mais pressa, não vá algum reino fugir-lhe!
Raimunda mostrou-se
intrigada, como se não entendesse as implicações do que ouvira
O Afonso Henriques é tão
novo, a mãe quer casá-lo já?
A impetuosa Fátima deu nova
risada e afirmou:
- À Sancha Henriques tem que ser um que meta o
cabresto!
Depois baixou o tom de voz e
provocou Raimunda:
- Mas para o aleijadinho ainda é cedo. Nunca
conheceu mulher...
Alguém tem de desmamar o
bezerro antes da noite de núpcias, senão é uma vergonha para o Condado!
Irritada, Raimunda
encostou-se à moura, tentando intimida-la:
- Ele não ficou aleijado, está alto e forte!
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