(Jorge Amado)
Episódio Nº 332
Para dona Sinhá, ficou a carne da pá; a
chã-de-dentro foi para José dos Santos; a tripa mais grossa para dona Coroca; a
tripa gaiteira, como sempre sucede, coube às solteiras; o osso corredor quem o ganhou
foi Lupiscínio e, a locê de parler, o Caboclo Gostosinho usando a língua
franciú de Tição Abduim deu a partilha por terminada:
A tripa do eu
É de seu Fadu
Nunca se riu tanto e tão à la godaça em Tocaia Grande. Para
que a felicidade fosse geral, todo o figurá cantou pedindo a ressurreição do
Boi.
Quem mais pedia era a Besta-Fera, o
Temeroso, o Jaraguá:
Levanta Janeiro, ei Boi
Dança no salão, ei Boi
Pra todo o povão, ei Boi
E o Boi ressuscitou, levantando-se num
passo rebolado, Boi muito matreiro e sem-vergonha. Fez reverências aqui e acolá, investiu contra os moleques, correu com
eles.
Ao Boi se juntaram o Caboclo Gostosinho, o
palhaço Mateus, a Besta-Fera, as pastoras e os soldados que vieram de Estância
e viraram jagunços em
Tocaia Grande ; à frente de todos a Senhorita Dona Deusa conduzindo,
com justo orgulho, o estandarte do Reisado Grapiúna de Sia Leocádia Benvinda de
Andrade.
Juntaram-se para cantar a jornada da despedida.
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Não há bem que sempre dure: nem por ser lugar-comum
deixa de ser verdade. O reisado se preparou para partir, as pastoras contaram
as moedas a fim de saber que cordão iria ganhar o estandarte das mãos da
Senhorita Dona Deusa, a neta Aracati de sia Leocádia. Dodô Peroba, barbeiro e
professor de passarinhos, veio depositar um níquel de cruzado, ou seja,
quatrocentos réis, no avental de Ricardina: a paixão dos desafios conduz a tais
loucuras.
A um gesto de sia Leocádia a última
jornada teve início:
Eu vou embora
Pra minha terra
Vou voltar meu pessoal
Ainda bem que no dia de amanhã teriam
mais, a jornada foi a última da Véspera de Reis, mas a derradeira deveria ser
somente no dia em que os Magos, Gaspar, Melqui or
e Baltazar, levaram ao menino-Deus nascido as oferendas de ouro, incenso e
mirra.
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