terça-feira, outubro 06, 2015

A CDU teve mais um deputado... logo, ganhou as eleições!

As Eleições de 4 de 


Outubro















O povo português é totalmente previsível. Não como o espanhol, grego ou inglês em que as sondagens falham redondamente nas previsões, surpreendendo tudo e todos.

Aqui, em Portugal, é o paraíso das empresas de sondagens. A nossa natureza não surpreende ninguém. Podíamos poupar no processo eleitoral aceitando as sondagens como resultado das eleições.

Somos um povo especial, com árabes, negros e judeus nas nossas entranhas, estes os mais conhecidos porque muitos outros existirão tantos foram os lados por onde andámos. 

Somos como uma espécie de síntese do universo da humanidade.

Já lá diziam os meus amigos Luenas, na fronteira de Angola com a Zâmbia, que brancos eram os ingleses, os portugueses eram... portugueses.

No dia 2 de Outubro escrevi aqui no Memórias Futuras que:

- “A curiosidade tem a ver com a confirmação, ou não, das sondagens, pelo resultado das urnas: 38% para a PAF e 32% para o PS.

Será que as previsões vão bater certo com a realidade das urnas?”


Pois, a resposta é que quase não podiam ser mais certeiras: 38,6% e 32,4%, apenas uma questão de vírgulas.

No entanto, numa leitura realista, a PAF de Passos Coelho, com estes resultados, perdeu em toda a linha: votos, deputados e maioria no Parlamento e, ainda por cima, vai ser obrigada a governar, dependente de negociações, lei a lei, o que não está habituada a fazer depois de, também ela, ter prometido o fim da austeridade durante a campanha.

Esta situação tem o risco da ingovernabilidade e dar lugar a próximas eleições mais clarificadoras nas quais, com a habilidade já demonstrada pelo PAF e seus conselheiros brasileiros, irá responsabilizar o PS e a oposição e convencer o eleitorado em dar-lhe, novamente, uma maioria absoluta para poder governar na “paz” da sua verdade em que só o Tribunal Constitucional lhe faz frente.

Muitos, na direita, já só pensam nesse desfecho...       

- “O que aconteceu de tão mau para Costa, nos últimos 3 meses, que o fizeram perder 5 pontos em tão pouco tempo?

- Será o resultado das feridas da vitória inequívoca de Costa sobre Seguro em Setembro de 2014?”


 – Perguntava eu, também, na passada 6ª Feira, dia 2.


Estamos no domínio da análise de especialistas e sociólogos políticos, mas eu vou emitir a minha opinião:

 - O povo português, na sua generalidade, é atraído por pensamentos simples e directos, nada elaborados, com uma memória pouco trabalhada, neste caso, fortemente marcada ainda pela parte final do mandato de Sócrates, que foi traumatizante, com a banca-rôta, a troika, a austeridade, e aqueles senhores funcionários do FMI que atravessavam as arcadas do Terreiro do Paço, silenciosos, com grandes pastas na mão, em visitas de humilhação do país, que não esqueceremos facilmente porque as imagens da televisão as repetiam, masoquìsticamente, como factos relevantes desse período.

Ligar Costa a tudo isto não foi difícil, e Passos fê-lo de maneira insidiosa e exímia porque pode ser um mau governante mas é um bom político.

Costa combateu-o com um estudo de economistas na mão, a lembrar o Camões quando salvou os Lusíadas a nado, e difíceis explicações sobre uns descontos para a Segurança Social que iriam criar emprego e terminou amedrontando a classe média, ameaçando que não viabilizará o Orçamento.

- Não terá sido uma boa ideia para ganhar eleições...

- Foi a campanha dele sabotada de dentro do partido em resultado da luta que teve com António José Seguro?

 - Quem está de fora não o poderá dizer, mas o papel de Seguro durante toda a campanha, que nem boa sorte desejou aos socialistas, apenas aos portugueses, levanta muitas dúvidas. O que testemunhámos foi o empenho até à exaustão por parte de António Costa.

Os portugueses tinham interiorizado a necessidade da austeridade e dos sacrifícios após a saída de Sócrates - eu próprio sabia que ela seria inevitável – e foi muito fácil a Passos explicá-la como o resultado da herança de Sócrates.

Se foi demais, se ele exagerou, se o fez em termos correctos, se nos chamou piegas, nos acusou de gastarmos acima das nossas possibilidades, se nos mandou emigrar..., tudo isso não altera o responsável: Sócrates, de quem Costa, certo ou errado, está associado.

É certo que os portugueses não gostaram e tiraram-lhe uma grande fatia dos votos que lhe tinham dado em 2011, 738.000, em sinal de forte desagrado, que Costa não conseguiu capitalizar perante aquele discurso assertivo de uma actriz, grande política, que é Catarina Martins, do Bloco de Esquerda.

Resumindo, a missão de Costa só, aparentemente, era fácil e quem o afirma está na intenção de o tramar.

Fez muito bem em não se demitir e agora vai ser posto à prova numa missão difícil para a qual ele está talhado, que é a de dar governabilidade ao país pensando mais nele, país, do que em políticas pessoais e partidárias.

As metas orçamentais não podem ser mais exigentes, a dívida e os respectivos juros são enormes e a margem do país é muito pequenina.

Um milagre da Sra de Fátima precisa-se para que o próximo governo, de um homem que faz campanha com um crucifixo na mão, dure algum tempo, mas as personalidades em palco não ajudam muito, ou então a surpresa será total o que também não é provável dada a previsibilidade deste país.


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