(Domingos Amaral)
Episódio Nº 82
O de meu pai com Teresa
Celanova; o meu com Maria Gomes; o do Braganção com Sancha Henriques; e o de
Paio Soares com Chamoa.
Contudo, a mais perturbadora
era a novidade final; Dona Teresa e Fernão Peres esforçavam-se por procurar um
varão, e haviam folgado três vezes naquela matina, em três posições diferentes!
Meu pai e meu tio tinham
empalidecido com o relato daquelas fogosidades extremas: um menino seria um
rival perigosíssimo de Afonso Henriques, ao mesmo temo tempo um herdeiro
legítimo e um Trava!
Aflitos, decidiram nada
dizer ao príncipe, para não o perturbar e ordenaram a Raimunda que se calasse
durante o jantar que estava a começar numa grande tenda.
A rapariga assim fez e
dirigiu-se ao local depois de os deixar cá fora.
No recinto coberto, dezenas
de servas, cirandavam carregando travessas com comida e jarros cheios de
bebidas. Poucos dos convivas estavam sentados, a maioria alimentava-se de pé,
com a boca cheia e às vezes arrotando, enquanto alguns lavavam as mãos em
bacias ou as limpavam às napeiras.
Dona Teresa e Fernão Trava,
de mão dada, conversavam com a irmã dele, Elvira, e seu marido, Gomes Nunes de
Pombeiro. Do lado direito da rainha estavam os Celanova e, mais atrás, o prior
Teotónio escutava atentamente o cavaleiro Gondomar.
Para a esquerda
encontrava-se Sancha Henriques, carrancuda e sentada, ferrando os dentes numa
peça de cervo, alheia a tudo e a todos.
À sua frente, em cima da
mesa, via-se uma escudela de madeira, cheia de sopa, ao lado de uma grande
metade de pão, arredondada, onde ela agora pousava a carne, lambendo os beiços
primeiro e limpando depois à manga da dalmática azul.
A irmã Urraca Henriques
vigiava-a, temendo uma nova investida do Braganção, que a olhava intensamente,
qual cão com baba a escorrer-lhe da boca, trepidando de desejo, só os amigos o
continham.
Afonso Henriques, Gonçalo de
Sousa, eu e meus irmãos estávamos de roda dele, contando-lhe os feitos da
caçada madrugadora.
Mais ao lado, Raimunda
descobriu Chamoa de pé, fechando um círculo composto por sua irmã Maria Gomes e
pelas três mouras.
A galhofa feminina tinha
como óbvio motivo os rapazes, concretamente Afonso Henriques, pois era para ele
que Chamoa olhava, batendo as pestanas, com os seus olhinhos de corça a
chisparem.
Surpreendida, Raimunda não
descobriu Paio Soares, e voltou a sair da tenda para o procurar. Cá fora,
alguns nobres e damas trocavam cortesias, mas só quando rodeou o local viu, a
vinte passos dela, meu pai, meu tio e Paio Soares a discutirem com ardor
quezilento.
Discretamente, sentou-se de costas
voltadas para eles e escutou-os.
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