(Domingos Amaral)
Episódio Nº 107
Gomes Nunes, sem deduzir das
palavras da filha o tipo de beijo a que ela se referia, encolheu os ombros,
dizendo:
- Deus perdoa essas brincadeiras de crianças!
Depois colocou a mão no
braço de Chamoa e afirmou:
- Filha, sabes o quanto vos amo, mas... não
podemos recusar a decisão da rainha. Paio Soares é um homem poderoso e nós...
Preocupado, revelou a
degradação a que chegara o seu relacionamento com Afonso Raimundes. O futuro
rei Afonso VII ameaçara invadir as terras de Toronho, e a única forma da família
lhe resistir era colocar-se na protecção de Dona Teresa.
Ora, explicou Gomes Nunes,
casando Maria com Lourenço Viegas e Chamoa com Paio Soares, a casa de Toronho
ficava defendida, pois Afonso VII não iria atacar um homem que seria, em simultâneo,
sogro do Mordomo-Mor de Dona Teresa e do filho varão de Egas Moniz.
- É a nossa salvação, minha filha querida! –
exclamou.
Indignada, Chamoa gritou:
- Paio Soares não mandará nada, quem manda é
meu tio Fernão!
Nesse momento, Elvira Peres
de Trava interveio:
- O vosso casamento foi
ideia do meu irmão Fernão! Ele quer ver Dona Teresa como rainha de uma Galiza
unida ao Condado e nós temos de apoiá-lo se não só nos resta a desgraça.
Chamoa nunca pensara que o
seu matrimónio era a principal forma de defender os interesses da família, mas
ao dar-se conta dessa possibilidade teve um rasgo de lucidez!
Só que para apresentar aos
pais a sua fabulosa ideia, teria de revelar aos pais a verdade que habitava o
seu coração.
Olhou para a irmã buscando
um incentivo.
Sempre calma, Maria Gomes
encorajou-a:
- Chamoa, é o momento de
falares.
Elvira Peres de Trava
examinou as filhas, intrigada, e Gomes Nunes murmurou que era tarde para
desejar alterações.
Desesperada, Chamoa
interrompeu-o e gritou:
- Pai: eu e o príncipe somos amigos! Estamos
enamorados e queremos casar-nos!
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