sexta-feira, novembro 20, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 114


















- Não era boa ideia, explicou, amanhã seria procurado como ladrão. Curiosa, Elvira questionou-o:

 - Por que quereis fugir?

Num arremesso de honestidade só possível perante estranhos, Ramiro contou-lhe a verdade. A normanda suspirou, desalentada.

- Quem me dera ir convosco mas eles só levam homens.

Intrigado, Ramiro, perguntou-lhe se estava enamorada de alguém, mas ela apenas encolheu os ombros.

 - Ninguém me quer.

Depois, como se não quisesse falar mais sobre ela, disse ao rapaz que corresse, pois era possível que os homens de Gondomar ainda estivessem perto, e ele assim fez.

Lançou-se na estrada fora, passou pela estalagem e prosseguiu durante mais de uma légua. Quando estava quase a desistir viu à sua frente uns vultos.

O som dos seus apressados passos avisou-os e viu-os a pararem à sua frente, temendo talvez um assalto. À medida que se aproximava, Ramiro contou quatro cavalos, mas só Gondomar estava sozinho no seu.

Os outros seis homens formavam duplas nos três cavalos restantes. Ouviu o velho do manto branco perguntar:

 - Quem vem lá?

Ramiro apresentou-se como filho bastardo de Paio Soares, dizendo que desejava juntar-se a eles. Intrigado, Gondomar questionou-se:

 - Vosso pai conhece essa vontade?

O rapaz pensou em mentir mas decidiu não o fazer.

 - Sou bastardo, trata-me como um cão ou uma besta de carga.

Houve alguns sorrisos entre os homens, mas Gondomar recordou:

 - Paio Soares é o novo mordomo - mor do Condado. Lembro-me de o ouvir dizer que precisava de vós. Não quero problemas, regressai a Viseu. Se ele vos deixar podereis ir ter connosco.

Contrariado, Ramiro mordeu o lábio.

Só precisa de mim para me bater.

Gondomar não se comoveu com o queixume.

 - Isso é entre vós.

Dito isto, rodou o cavalo e os outros seguiram-no. O rapaz ficou a vê-los afastarem-se, desanimado, mas quando eles desapareceram no escuro decidiu continuar a segui-los. 

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