sexta-feira, novembro 27, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 120


















As pessoas começaram a chamar-lhes haschischins ou assasins, pois eram certeiros e letais. Quem Hassan-ibn-Sabbath declarasse que devia morrer era morto por um seu leal servidor. Depois, o assassino matava-se para não ser preso.

Taxfin mantinha-se em silêncio. A morte com duas pernas nunca deixara ninguém com vida, degolava todos os seus opositores.

Contudo, nunca se matara, ao contrário do que dizia ter acontecido aos seus colegas de Alamut.

Um dia fui escolhido por Hassan – Ibn – Sabbath para uma missão muito perigosa e longínqua, no Egipto. E cumpri-a, matando quem ele me ordenara. Mas não me matei como outros fedayn.

O homem riu-se para si próprio emitindo um som maligno como se estivesse possuído por um demónio. Depois acrescentou.:

- Já sabia o que ia acontecer em Alamut.

Nem um homem santo e glorioso consegue enganar a morte explicou o fedayn. Nenhum dos seguidores e sucessores de Hassan-Ibn- Sabbath conseguiu manter a união e, pouco a pouco, os valorosos fedayn foram partindo.

Apesar de bons religiosos e bons guerreiros, muitos perderam a fé, outros a capacidade de lutar. Sem Hassan-Ibn-Sabbath para iluminar as suas almas, apagaram-se na escuridão dos tempos.

Fui o único que prossegui o destino em que me iniciaram.

Do Egipto partira à procura de quem pagasse os seus serviços.

Sabia matar muito bem, mas só no califado Almorávida encontrara alguém que o compreendera.

- Ali Yusuf acolheu-me – disse o fedayn.

Há quase uma década que aquele carniceiro matava para o califa de Marraquexe, e Taxfin suspirou de novo. A perna doía-lhe, mexeu-se um pouco na cama. Depois perguntou:

 - É verdade o que dizem dos fedayn que fumam muito haxixe antes de matarem, para terem mais coragem?

O outro respondeu a Taxfin com uma pergunta:

- Queres fumar haxixe antes de morrer?

O marido de Zulmira disse que sim e então o persa atirou-lhe um saco e um cachimbo e Taxfin encheu-o. Depois perguntou:

 - Como o acendo?

Pela primeira vez o homem mexeu-se e dirigiu-se à lareira. Taxfim viu-o apanhar carvão em brasa com uma pinça de ferro.

Depois, aproximou-se da cama e estendeu-lhe a pinça, e Taxfin acendeu o cachimbo nela. Deu umas passas saboreando o fumo.

Sabia bem, era haxixe de Marrocos. Uma onda de nostalgia invadiu-o.

- Sabes, disse ao homem – fumei muito haxixe aqui, em Hisn Abi Cherif com alguns dos maiores poetas da Andaluzia a declamarem os seus versos à Zulmira.

É disso que vou ter saudades. Não é de ter sido governador, ou de ter morto tantos cristãos. Vou é sentir saudades deste castelo de arenito vermelho, e da minha Zulmira a passear no jardim, entre as margaridas e as rosas.

Deu uma nova passa no cachimbo e depois cerrou os dentes e disse:

 - Abu Zhakaria vai matar-vos.

Ignorando-o o outro declarou:

 - São as ordens do califa: matar-vos, matar a vossa mulher e matar as filhas dela e de Hixam de Hisn Abi Cherif.

Tranquilo. Taxfin apenas perguntou ao seu carrasco:

 - Porque não vos matais depois, como mandava o “Velho da Montanha”?

O alfange ergueu-se e caiu sobre ele com violência, degolando-o num só golpe.

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