sexta-feira, novembro 27, 2015

Da Política

no meu país













Só o meu jornalista “predilecto”, Ferreira Fernandes, poderia ter escrito o que escreveu hoje no DN:

- Ontem, Cavaco tomou posse da sua ida embora.

Há quem afirme, erradamente, que Cavaco é um equívoco o que é perfeitamente falso. Nada tem de equívoco, embora tivéssemos tido muitos, políticos e políticas equívocas, de que fomos vítimas, Cavaco, sempre foi coerente, igual a si próprio na sua identidade que nunca procurou esconder.

Nas duas últimas semanas e no discurso de ontem limitou-se, apenas, a ser ainda mais igual a si próprio, isto para aqueles que andaram distraídos nos últimos anos com a benignidade do nosso clima.

Não, para mim, e não só, Cavaco foi um persistente erro de casting, exactamente por causa da sua coerência, diria mesmo, um grosseiro erro de casting, o que é diferente,  “um velho do Restelo moderno, de medo e receio, um mestre de escola antigo, sem uma palavra de esperança”, como se lhe referiu Lídia Jorge.

De tal forma, que agora já se ouvem vozes a dizer, que no futuro temos de ter mais cuidado quando escolhemos a pessoa para colocar neste lugar.

Cavaco é um Presidente de um sector, estreito, da sociedade portuguesa, um homem de facção que, por isso mesmo, nunca poderia ser Presidente de um país.

Quem ouviu ontem os discursos de Cavaco e Costa percebeu, perfeitamente, que alguém estava errado no seu lugar e não era Costa com as suas palavras apaziguadoras, tranquilas e abrangentes, enquanto que o primeiro se preparava para nos deixar num beco sem saída, num tom intratável, cujas palavras eram proferidas por uma autentica “cara de pau”.

Porque não marcou ele as eleições legislativas para mais cedo de forma a ficar com campo de manobra e poder marcar novas eleições depois de dissolver a Assembleia?

- Então, não era perfeitamente previsível que nenhum dos candidatos a 1º Ministro – porque foi nisto que, erradamente, se transformaram as eleições legislativas – não iria ter maioria absoluta e só poderia governar com estabilidade no apoio maioritário do Parlamento?

- Quem é o político bom? – O que não é capaz de perspectivar o futuro ou aquele que vê à distancia as soluções e acredita na sua capacidade dialogante, de entendimento com os outros, para as atingir?

- E então, aquilo que é constitucional não é legítimo?

Tantos elogios que ao longo dos anos ouvi à nossa Constituição, revista em 1982, e afinal ela alberga ilegitimidades?...

Cavaco, e a sua direita foram surpreendidos e a uma surpresa chamaram ilegitimidade.

Também eu fui surpreendido e a maioria dos portugueses igualmente. Para mim e para a maioria dessas pessoas de esquerda foi uma agradável surpresa dar voz que não fosse de simples protesto, a 996.872 votos, quase um milhão de portugueses, que nunca tinham entrado na zona do poder.

Uma surpresa explicada pela história e características do nosso leque partidário e que era preciso ultrapassar.

Sendo de direita e ferrenho, Cavaco não aceitou essa ultrapassagem pela esquerda e ter-lhe dado corporização no governo a que ontem deu posse foi, sem dúvida, o seu maior amargo de boca.

É com alívio que o verei pelas costas no dia 9 de Março do próximo ano para bem do arejamento democrático neste país. 

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