(Domingos Amaral)
Episódio Nº 132
Mantinha-se calmo, quase não
se ouvia a respiração e os seus dedos não tremiam.
Ramiro estava certo que ele
já tinha feito coisa semelhante, mas para ele era a primeira vez e começou a
sentir-se indisposto.
O Velho resmungou:
- Não me falheis.
Ramiro fez um esforço
titânico, fechou os olhos, mas depois ouviu um gemido e voltou a abri-los.
O Velho mexia a agulha,
evitando as veias de Gondomar e empurrando a catarata para baixo até a
conseguir extrair. Depois começou a lavar o olho ferido com o líqui do amarelado que estava na segunda bacia.
- É gema de ovo, explicou.
Quando terminou lavou o olho
novamente, mas agora com o outro líqui do,
dizendo que era óleo de rosas e que, pelo menos durante cinco dias, Gondomar
teria que ser deixado às escuras, no quarto do castelo, sempre com o olho bem
vedado.
E assim foi, o mestre do
manto branco só saíu para o ar livre na manhã de Pentecostes, no dia em que
foram atacados pelos mercenários de Abu Zakaria.
Soure, Junho de 1126
Sentindo-se recuperado,
Gondomar queria ir a Coimbra, rezar no dia do santo de Pentecostes. Para o
levar, Ramiro convenceu um jovem almocreve chamado Mem, que de quando em vez,
passava em Soure.
Enquanto esperavam pelo
mestre aquele perguntou:
- Já haveis visto ursos por cá?
Ramiro apontou para o maior
dos seus companheiros.
-O único que vi, Chamam-lhe
Urso por ser tão grande.
Mem observou os restantes
homens, que continuavam a cortar raízes e a limpar o destruído castelo, e
perguntou se o estavam a reconstruir, o que Ramiro confirmou, acrescentando:
- O nosso mestre vai a
Coimbra tentar angariar novos monges.
Mem olhou para a torre de
menagem e comentou:
- Vai ter de ir abaixo, assim não resiste ao
primeiro combate.
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