sexta-feira, dezembro 11, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 132



















Mantinha-se calmo, quase não se ouvia a respiração e os seus dedos não tremiam.

Ramiro estava certo que ele já tinha feito coisa semelhante, mas para ele era a primeira vez e começou a sentir-se indisposto.

O Velho resmungou:

 - Não me falheis.

Ramiro fez um esforço titânico, fechou os olhos, mas depois ouviu um gemido e voltou a abri-los.

O Velho mexia a agulha, evitando as veias de Gondomar e empurrando a catarata para baixo até a conseguir extrair. Depois começou a lavar o olho ferido com o líquido amarelado que estava na segunda bacia.

- É gema de ovo, explicou.

Quando terminou lavou o olho novamente, mas agora com o outro líquido, dizendo que era óleo de rosas e que, pelo menos durante cinco dias, Gondomar teria que ser deixado às escuras, no quarto do castelo, sempre com o olho bem vedado.

E assim foi, o mestre do manto branco só saíu para o ar livre na manhã de Pentecostes, no dia em que foram atacados pelos mercenários de Abu Zakaria.


Soure, Junho de 1126


Sentindo-se recuperado, Gondomar queria ir a Coimbra, rezar no dia do santo de Pentecostes. Para o levar, Ramiro convenceu um jovem almocreve chamado Mem, que de quando em vez, passava em Soure.

Enquanto esperavam pelo mestre aquele perguntou:

 - Já haveis visto ursos por cá?

Ramiro apontou para o maior dos seus companheiros.

-O único que vi, Chamam-lhe Urso por ser tão grande.

Mem observou os restantes homens, que continuavam a cortar raízes e a limpar o destruído castelo, e perguntou se o estavam a reconstruir, o que Ramiro confirmou, acrescentando:

- O nosso mestre vai a Coimbra tentar angariar novos monges.

Mem olhou para a torre de menagem e comentou:

 - Vai ter de ir abaixo, assim não resiste ao primeiro combate.


Site Meter