sexta-feira, dezembro 18, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 136





















Por mais que não simpatize com ele, tenho de admitir que Ramiro era arguto. Logo ali suspeitou daqueles movimentos dos mouros. Zhakaria ia ficar em Soure quando não tinha tropas suficientes para se defender de um contra-ataque dos cristãos? Seria uma artimanha, para obrigar as tropas de Dona Teresa saírem de Coimbra, deixando-a desguarnecida?

Quarenta homens não tomavam a cidade, mas podiam libertar três mulheres, se os não estivessem por lá. Com este pensamento, Ramiro evitou a primeira tentativa de resgate das mouras, e talvez por isso elas nunca gostaram dele.



Coimbra, Junho de 1126



A carroça de Mem já estava em cima da barcaça, preparada para atravessar o Rio Mondego, quando o jovem almocreve vê ao longe, na estrada que vinha de Soure, uma nuvem de poeira.

Distinguiu um primeiro cavalo, apenas com um homem na sela, e depois viu mais dois, com dois homens cada, um dos quais tombado.

Mem reconheceu os companheiros de Ramiro e avisou Gondomar.

- Ordena ao barqueiro que espere! Gritou este.

Ao olhar de novo para a estrada, Mem viu aparecer cinco mouros que tentavam apanhar os homens da Ordem.

- Protegei-vos – disse a Gondomar.

O velho do manto branco colocou-se dentro da guarita da barcaça, e Mem gritou ao barqueiro que não partisse, mas este queria fazê-lo, com receio de ser saqueado, e começou a manobrar.

- Não posso arriscar esta carga! – berrou.

Mem também não queria perder a sua carroça, repleta de barris com alimentos e sacas com tecidos, que iria vender em Coimbra. Se os sarracenos o assaltassem, o seu prejuízo seria forte, mas também não podia deixar aqueles cristãos em terra.

Não viu Ramiro em lado nenhum e quando Gondomar lhe perguntou por ele, não soube responder. Só lá vinham cinco cristãos, que estavam agora mais próximos, mas com os sarracenos à ilharga.

Então, Mem decidiu saltar da barcaça e correr vinte metros pela estrada. Levou consigo o arco e as flechas e subiu a uma árvore.

O primeiro cavaleiro cristão estava a chegar e Mem gritou-lhe dirigindo-o para a barcaça. O Rato continuou na direcção do rio.

Pouco depois, apareceram os outros dois cavalos, e Mem gritou que não parassem. Notou que um homem estava inanimado e um outro, um gordo, que montava o mesmo cavalo, sangrava muito.

Passaram por ele e Mem fez pontaria aos sarracenos que estariam agora a pouco mais de dez metros.

Disparando duas flechas derrubou dois deles mas falhou a terceira tentativa. Os restantes três mouros pararam os seus cavalos e recuaram.

Se ele descesse da árvore seria presa fácil. Preocupado, viu que a barcaça se voltara a afastar, apesar dos protestos de Gondomar, e que os três sarracenos sorriam, certos de que seriam capazes de o matar.

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