(Domingos Amaral)
Episódio Nº 136
Por mais que não simpatize com ele, tenho de admitir que Ramiro era arguto. Logo ali suspeitou daqueles movimentos dos mouros. Zhakaria ia ficar em Soure quando não tinha tropas suficientes para se defender de um contra-ataque dos cristãos? Seria uma artimanha, para obrigar as tropas de Dona Teresa saírem de Coimbra, deixando-a desguarnecida?
Quarenta homens não tomavam
a cidade, mas podiam libertar três mulheres, se os não estivessem por lá. Com
este pensamento, Ramiro evitou a primeira tentativa de resgate das mouras, e
talvez por isso elas nunca gostaram dele.
Coimbra, Junho de 1126
A carroça de Mem já estava
em cima da barcaça, preparada para atravessar o Rio Mondego, quando o jovem
almocreve vê ao longe, na estrada que vinha de Soure, uma nuvem de poeira.
Distinguiu um primeiro
cavalo, apenas com um homem na sela, e depois viu mais dois, com dois homens
cada, um dos quais tombado.
Mem reconheceu os
companheiros de Ramiro e avisou Gondomar.
- Ordena ao barqueiro que
espere! Gritou este.
Ao olhar de novo para a
estrada, Mem viu aparecer cinco mouros que tentavam apanhar os homens da Ordem.
- Protegei-vos – disse a
Gondomar.
O velho do manto branco
colocou-se dentro da guarita da barcaça, e Mem gritou ao barqueiro que não
partisse, mas este queria fazê-lo, com receio de ser saqueado, e começou a
manobrar.
- Não posso arriscar esta
carga! – berrou.
Mem também não queria perder
a sua carroça, repleta de barris com alimentos e sacas com tecidos, que iria
vender em Coimbra. Se
os sarracenos o assaltassem, o seu prejuízo seria forte, mas também não podia
deixar aqueles cristãos em terra.
Não viu Ramiro em lado
nenhum e quando Gondomar lhe perguntou por ele, não soube responder. Só lá
vinham cinco cristãos, que estavam agora mais próximos, mas com os sarracenos à
ilharga.
Então, Mem decidiu saltar da
barcaça e correr vinte metros pela estrada. Levou consigo o arco e as flechas e
subiu a uma árvore.
O primeiro cavaleiro cristão
estava a chegar e Mem gritou-lhe dirigindo-o para a barcaça. O Rato continuou
na direcção do rio.
Pouco depois, apareceram os
outros dois cavalos, e Mem gritou que não parassem. Notou que um homem estava
inanimado e um outro, um gordo, que montava o mesmo cavalo, sangrava muito.
Passaram por ele e Mem fez
pontaria aos sarracenos que estariam agora a pouco mais de dez metros.
Disparando duas flechas
derrubou dois deles mas falhou a terceira tentativa. Os restantes três mouros
pararam os seus cavalos e recuaram.
Se ele descesse da árvore
seria presa fácil. Preocupado, viu que a barcaça se voltara a afastar, apesar
dos protestos de Gondomar, e que os três sarracenos sorriam, certos de que
seriam capazes de o matar.
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