(Domingos Amaral)
Episódio Nº 138
- Foi um desses que matou o meu pai. Vinha com
as tropas de Ali Yusuf e foi-se embora com elas. Mas dizem-me que regressou.
Gondomar murmurou:
- Resta saber porque veio
até tão longe.
Não havia qualquer notícia
de que o califa Ali Yusuf tivesse atravessado o Mediterrâneo; porque estaria um
assassin a caminho de Coimbra? Mem não sabia, mas lembrou que Abu Zhakaria, o
chefe do bando dos mouros que atacara Soure, desejava libertar do cativeiro as
três mulheres mouras.
Catedral de Zamora,
Pentecostes, Junho de 1126
Anos depois, muitos foram os
que garantiram que a ideia de se armar cavaleiro a si próprio não foi de Afonso
Henriques, mas sim de Paio Mendes, Arcebispo de Braga.
Homem alto e espadaúdo, com
um feitio dura e irascível, que no passado já lhe valera uma prisão a mando de
Dona Teresa e dos Trava, Paio Mendes transportava na alma um desejo de
confrontação intenso e justificado.
Haviam sido muitos anos de humilhação,
desde que se tornara arcebispo. As manigâncias de Dona Teresa e dos Trava
sempre tinham aproveitado ao seu mais feroz inimigo, Gelmires, o Arcebispo de
Compostela.
Quando, semanas antes,
Afonso Henriques chegara a Braga vindo de Viseu e lhe relatara o sucedido por
lá, Paio Mendes rejubilara.
Finalmente, o príncipe iria
enfrentar a mãe e os Trava! Finalmente, os nobres portucalenses iam abandonar a
sua postura passiva e ofendida e reagir contra quase uma década de maus tratos
de Dona Teresa!
Pouco interessava o motivo
íntimo, a indevida paixoneta põe Chamoa, o importante era a declaração de
guerra!
Sem grande opt imismo quanto ao rapt o
de Chamoa, e com razão, como se provou, o Arcebispo de Braga e o príncipe
decidiram promover um evento glorioso, onde o segundo afrontaria em simultâneo
a mãe e o primo Afonso VII, novo rei de Castela, Leão e Galiza.
O príncipe de Portugal iria
armar-se cavaleiro, uma prerrogativa reservada apenas aos futuros reis!
Era um gesto de alto risco
mas brilhante. Com ele, Afonso Henriques erguia-se ao estatuto de rei, numa
ousada destemida que o transformava aos olhos dos nobres, do clero e do povo.
A escolha do local também
foi fulgurante. Zamora era o território de Dona Teresa, e sagrar-se cavaleiro
naquela catedral constituía uma afirmação clara de posse da região.
Contudo, como se situava na
fronteira com Leão, essa proximidade aumentava o grau de ousadia.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home