terça-feira, dezembro 22, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 138























 - Foi um desses que matou o meu pai. Vinha com as tropas de Ali Yusuf e foi-se embora com elas. Mas dizem-me que regressou.

Gondomar murmurou:

- Resta saber porque veio até tão longe.

Não havia qualquer notícia de que o califa Ali Yusuf tivesse atravessado o Mediterrâneo; porque estaria um assassin a caminho de Coimbra? Mem não sabia, mas lembrou que Abu Zhakaria, o chefe do bando dos mouros que atacara Soure, desejava libertar do cativeiro as três mulheres mouras.


Catedral de Zamora, Pentecostes, Junho de 1126


Anos depois, muitos foram os que garantiram que a ideia de se armar cavaleiro a si próprio não foi de Afonso Henriques, mas sim de Paio Mendes, Arcebispo de Braga.

Homem alto e espadaúdo, com um feitio dura e irascível, que no passado já lhe valera uma prisão a mando de Dona Teresa e dos Trava, Paio Mendes transportava na alma um desejo de confrontação intenso e justificado.

Haviam sido muitos anos de humilhação, desde que se tornara arcebispo. As manigâncias de Dona Teresa e dos Trava sempre tinham aproveitado ao seu mais feroz inimigo, Gelmires, o Arcebispo de Compostela.

Quando, semanas antes, Afonso Henriques chegara a Braga vindo de Viseu e lhe relatara o sucedido por lá, Paio Mendes rejubilara.

Finalmente, o príncipe iria enfrentar a mãe e os Trava! Finalmente, os nobres portucalenses iam abandonar a sua postura passiva e ofendida e reagir contra quase uma década de maus tratos de Dona Teresa!

Pouco interessava o motivo íntimo, a indevida paixoneta põe Chamoa, o importante era a declaração de guerra!

Sem grande optimismo quanto ao rapto de Chamoa, e com razão, como se provou, o Arcebispo de Braga e o príncipe decidiram promover um evento glorioso, onde o segundo afrontaria em simultâneo a mãe e o primo Afonso VII, novo rei de Castela, Leão e Galiza.

O príncipe de Portugal iria armar-se cavaleiro, uma prerrogativa reservada apenas aos futuros reis!

Era um gesto de alto risco mas brilhante. Com ele, Afonso Henriques erguia-se ao estatuto de rei, numa ousada destemida que o transformava aos olhos dos nobres, do clero e do povo.

A escolha do local também foi fulgurante. Zamora era o território de Dona Teresa, e sagrar-se cavaleiro naquela catedral constituía uma afirmação clara de posse da região.


Contudo, como se situava na fronteira com Leão, essa proximidade aumentava o grau de ousadia.

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