quinta-feira, dezembro 03, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 125



















O almocreve que costumava abastecer a propriedade descobrira-os barbaramente degolados, numa obra que parecia de Satã.

Com a ajuda da criada que sobrevivera, enterrara Taxfin no pequeno mausoléu, onde já repousavam Hisham de Hisn Abi Cherif e o pai deste.

Gemendo Zulmira soluçou:

 - Foi o califa que o mandou matar, foi Ali Yusuf.

 Zaida contar-me-ia mais tarde que, misturado com a tristeza que a abatia, um medo profundo apoderou-se de Zulmira, pois sabia que, se Taxfin fora morto no castelo da serra Morena, para onde se retirara ferido e incapaz de combater, isso significava que elas também não estavam a salvo.

Nem em Coimbra, nem em local algum.

- Nós é que somos o perigo, não era Taxfin – dissera Zulmira.

As minhas filhas é que o califa quer eliminar, elas é que fazem sombra ao berbere maldito!

E era bem verdade como veio a verificar-se algum tempo depois.



Maia, Maio de 1126


Afonso Henriques tinha avisado meu pai de que a guerra iria começar, mas ninguém esperava que fosse assim, com uma acção tão brusca e aventureira.

Dois dias antes do casamento de Chamoa, o meu melhor amigo chegou perto de mim e de Gonçalo e propôs-nos uma expedição perigosa.

Fervoroso e lutador exigia a nossa companhia para uma arrojada empresa: partir de imediato para Maia e impedir o matrimónio da rapariga galega com Paio Soares.

 - Que dizeis? – Quereis ir raptar Chamoa?

Era esse o desejo do príncipe. Enamorado mas também furibundo com as decisões de sua mãe, desejava rumar à terra de Paio Soares, onde sabia que Chamoa e a família já estavam, para poder subtraí-la àquele desígnio que, com a convicção dos apaixonados considerava inaceitável.

- Ela virá comigo, estou certo! – exclamou Afonso Henriques.

Gonçalo foi o primeiro a duvidar da quimera, pois considerava que a rapariga deixara Viseu conformada, aceitando as imposições, não só dos pais, mas também de seu tio e de Dª Teresa.

Para mais teríamos de invadir o castelo de Paio Soares onde não seríamos bem vindos com intenções tão hostis.

Paio Soares ainda vos mata – resmungou Gonçalo – ele é um grande combatente e sabe manejar armas melhor que vós!

O príncipe olhou-o friamente e ripostou:

- É um traidor, vendeu-se ao Trava!

Colocando a mão na espada, acrescentou:

- Julgais que não sou capaz de o trespassar?

Cauteloso, tentando apaziguar o meu amigo, acrescentei:

- Paio Soares foi sempre muito leal a vosso pai.

Porém Afonso Henriques cerrou os dentes, enervado, e gritou:

 - Meu pai já não está entre nós há muitos anos!

                                                                                   

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