(Domingos Amaral)
Episódio Nº 125
O almocreve que costumava
abastecer a propriedade descobrira-os barbaramente degolados, numa obra que
parecia de Satã.
Com a ajuda da criada que
sobrevivera, enterrara Taxfin no pequeno mausoléu, onde já repousavam Hisham de
Hisn Abi Cherif e o pai deste.
Gemendo Zulmira soluçou:
- Foi o califa que o mandou matar, foi Ali
Yusuf.
Zaida contar-me-ia mais
tarde que, misturado com a tristeza que a abatia, um medo profundo apoderou-se
de Zulmira, pois sabia que, se Taxfin fora morto no castelo da serra Morena,
para onde se retirara ferido e incapaz de combater, isso significava que elas
também não estavam a salvo.
Nem em Coimbra, nem em local
algum.
- Nós é que somos o perigo,
não era Taxfin – dissera Zulmira.
As minhas filhas é que o
califa quer eliminar, elas é que fazem sombra ao berbere maldito!
E era bem verdade como veio
a verificar-se algum tempo depois.
Maia, Maio de 1126
Afonso Henriques tinha
avisado meu pai de que a guerra iria começar, mas ninguém esperava que fosse
assim, com uma acção tão brusca e aventureira.
Dois dias antes do casamento
de Chamoa, o meu melhor amigo chegou perto de mim e de Gonçalo e propôs-nos uma
expedição perigosa.
Fervoroso e lutador exigia a
nossa companhia para uma arrojada empresa: partir de imediato para Maia e
impedir o matrimónio da rapariga galega com Paio Soares.
- Que dizeis? – Quereis ir rapt ar Chamoa?
Era esse o desejo do
príncipe. Enamorado mas também furibundo com as decisões de sua mãe, desejava
rumar à terra de Paio Soares, onde sabia que Chamoa e a família já estavam,
para poder subtraí-la àquele desígnio que, com a convicção dos apaixonados
considerava inaceitável.
- Ela virá comigo, estou
certo! – exclamou Afonso Henriques.
Gonçalo foi o primeiro a
duvidar da qui mera, pois considerava
que a rapariga deixara Viseu conformada, aceitando as imposições, não só dos
pais, mas também de seu tio e de Dª Teresa.
Para mais teríamos de
invadir o castelo de Paio Soares onde não seríamos bem vindos com intenções tão
hostis.
Paio Soares ainda vos mata –
resmungou Gonçalo – ele é um grande combatente e sabe manejar armas melhor que
vós!
O príncipe olhou-o friamente
e ripostou:
- É um traidor, vendeu-se ao
Trava!
Colocando a mão na espada,
acrescentou:
- Julgais que não sou capaz
de o trespassar?
Cauteloso, tentando
apaziguar o meu amigo, acrescentei:
- Paio Soares foi sempre
muito leal a vosso pai.
Porém Afonso Henriques
cerrou os dentes, enervado, e gritou:
- Meu pai já não está entre nós há muitos
anos!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home