quarta-feira, dezembro 30, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 144



















Furiosa, Dona Teresa fixou-o, de olhos semi-cerrados. Pressentindo a controlada mas evidente raiva dela, Afonso VII comentou:

 - E rezai para que no vosso ventre não cresça um rapaz. Só serviria para criar inúteis transtornos!

Com o rebento ameaçado, Dona Teresa torceu-se toda. A seu lado, Fernão Peres de Trava estava igualmente furibundo pois o desafio também lhe era dirigido, como pai da criança.

Contudo, o rei surpreendeu todos, pois logo após este cortante aviso aproximou-se da tia, revelando consideração e até preocupação.

- Tendes sido uma boa regente e espero que o continuareis a ser. Mas não será a criança que trazeis no ventre a razão das perturbações de Afonso Henriques?

Dona Teresa baixou os olhos embaraçada, e Afonso VII dobrou-se, beijando-lhe a mão com ternura. Por fim, disse:

 - Seja como for, desejo-vos uma boa gravidez.


Segundo consegui apurar mais tarde, foi logo na manhã seguinte que, impedido de folgar com a rainha devido aos enjôos desta o Trava se dedicou a congeminar uma solução para os imbróglios do Condado.

Horas depois terá chegado à perversa conclusão de que uma invasão de Afonso VII podia até ser bem vinda desde que o derrotado fosse Afonso Henriques e não Dona Teresa.

Intuiu que o melhor era não levar ninguém a Toledo durante o próximo ano, provocando assim o rei, e depois armar uma cilada obrigando Afonso Henriques a combater o furioso primo, enquanto Dona Teresa se refugiava em local seguro.

A eliminação física do ambicioso príncipe poderia sempre acontecer na barafunda de uma batalha desigual com as tropas do rei e, se ele morresse seria o filho do Trava e de Dona Teresa que herdaria a Galiza e o Condado Portucalense!

Todas as guerras se iniciam com pensamentos que as tornam inevitáveis mais tarde. E aquela estava prestes a começar... Por isso, o Trava e Gelmires adiaram durante algum tempo a busca pela relíquia e primeiro tentaram eliminar Afonso Henriques.




Lamego, Agosto de 1126


Atrás de Raimunda rugia a multidão. Uma mulher gorda trazia na mão uma enorme vassoura e um homem alto transportava uma lança velha, enquanto duas lavadeiras carregavam varapaus.

Qual soldado, de espada e capacete, Raimunda parou à porta de uma casa, encheu os pulmões e gritou.

 - Sai cá para fora, mulher!

Via-se azedume nos olhos de muitos, sobretudo nos das mulheres mais velhas, que não admitiam aquela desfeita.

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