terça-feira, dezembro 29, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 143






















Fora o mais turbulento casamento que jamais a Península vira.

Urraca e Afonso de Aragão odiavam-se, batiam-se, guerreavam-se, amavam-se, voltavam a guerrear-se e depois se traíam, num ciclo de violência que desequilibrara os reinos peninsulares.

- É ele que tenho de vencer primeiro – murmurou Afonso VII.

Porém, como se não fosse agora o assunto mais importante, olhou de novo para Dona Teresa e sorriu.

Tenho saudades de Afonso Henriques.

Embora tivessem quatro anos de diferença, durante a infância e adolescência deram-se bem quando se encontravam em Toledo, Compostela ou Viseu.

- Temos tanto em comum - continuou Afonso VII. – Os nossos pais morreram demasiado cedo, e as nossas mães mais que fazer do que dar-nos colo.

Cofiando a barba, murmurou, como se falasse consigo próprio:

 - É mais alto e mais forte do que eu, apesar de ser mais novo. Mas é também demasiado impetuoso.

Depois, olhando para a tia, interrogou-a:

 - Devemos pensar antes de agir, não vos parece?

Dona Teresa estava cada vez mais enjoada.

Não tenho a certeza de que meu primo saiba qual é o seu lugar – suspirou Afonso VII.

Parecia desapontado mas, de repente, o seu humor alterou-se, ficou muito sério e gritou.

- Um ano! Dou-vos um ano para o convencerdes!

Dali a semanas, o rei iria partir para guerrear Afonso I de Aragão, no Leste da Península. Estava convencido de que o venceria, e durante esse interregno Dona Teresa teria de garantir que gomes Nunes e o pai de Teresa Celanova mas sobretudo Afonso Henriques, se dirigiam a Toledo para lhe prestarem vassalagem.

Até ao próximo Pentecostes terão de me ir beijar a mão! Caso contrário invadirei Tui, Celanova e Guimarães!

Dona Teresa levou a mão à boca sustendo mais um vómito. A seu lado, Fernão Peres cerrou os dentes, consciente da gravidade do que ouvira.

Porém, a voz do rei tornou-se um pouco mais suave, quando acrescentou:

 - A não ser que...

Olhou depois para o Arcebispo Gelmires, que lhe sorria de volta. Depois, mirou Paio Soares e murmurou:

- Gelmires falou-me de uma relíquia sagrada, trazida da Terra Santa. Sabeis disso Mordomo – Mor?

Aflito, Paio Soares voltou a mentir, considerando a história uma lenda, falsa e irrazoável. O arcebispo limitou-se a tossir, e o rei pareceu desinteressar-se do tema, pois olhou de novo para a sua tia e prosseguiu, como se aquele pequeno desvio não tivesse acontecido.


Se os levardes a Toledo, considerarei as vossas pretensões. Mas se tal não acontecer... Como podereis aspirar ao trono da Galiza se nem sequer mandais em dois nobres menores e no vosso próprio filho?

Site Meter