segunda-feira, dezembro 28, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 142


















Dona Teresa, atrapalhada, nada disse e Afonso VII prosseguiu:

 - Esperemos que não seja tão atrasado quanto o Afonso Henriques!

Nesse momento entrou na tenda um nobre que se dirigiu ao rei e lhe falou ao ouvido. Esta franziu a testa e abanou a cabeça desapontado.

Enquanto o recém-chegado se juntava aos restantes conselheiros, olhou para o seu lado direito.

Arcebispo Gelmires ainda vos lembrais do dia em que me armei cavaleiro em Compostela?

O religioso deu um passo em frente. Estava ricamente vestido, com uma estola amarela por cima de um manto branco. A sua cabeça calva brilhava, provavelmente fora encerada antes de entrar na tenda, e os seus olhinhos matreiros fixaram o rei.

Afonso VII lançou-lhe nova questão:

 - Só os reis ou aqueles que o vão ser se podem armar cavaleiros?

O anafado arcebispo confirmou que assim era. Então o rei virou-se de novo para Dona Teresa e, fingindo-se intrigado, interrogou-a:

- Como explicais que vosso filho, Afonso Henriques, se tenha esta manhã armado cavaleiro, na Catedral de Zamora?

Perplexa, Dona Teresa, esbugalhou os olhos.

- Meu primo também deseja ser rei? – perguntou o monarca.

Atrapalhada, sua tia exclamou:

 - Nada sabia sobre isso, ele não o pode fazer!

Afonso VII ergueu as sobrancelhas e rematou:

- Não podia mas fez!

Dona Teresa olhou para Fernão Trava na esperança de que ela o ajudasse a sair daquela periclitante posição, mas este permaneceu calado.

Quase divertido o monarca fingiu ter dúvidas:

 - Poderá a Galiza ter uma rainha e dois reis ao mesmo tempo?

Com humor Afonso VII recordava que ele era o rei da Galiza, apesar das pretensões da tia e da ousadia do primo.

O Arcebispo Gelmires que se considerava o prelado mais importante da Península, perorou:

 - A Hispânia já tem reis a mais, mas o mais perigoso deles todos é Afonso de Aragão!

Sibilino, criticava as pretensões de Dona Teresa e de Afonso Henriques, ao mesmo tempo que desviava as atenções para o mais forte inimigo cristão.

Afonso VII franziu a testa, incomodado.

É bem verdade. O meu... como deverei chamar-lhe? Sogro? Primo?

Afonso I de Aragão, apesar de parente de sua mãe, fora casado com ela, embora o matrimónio tivesse depois sido anulado por Roma devido às ligações familiares entre os cônjuges.

Sorrido, o Arcebispo Gelmires sugeriu:


 - Chamai-lhe o que é, Afonso I de Aragão. Vossa mãe e ele nunca se entenderam.

Site Meter