(Domingos Amaral)
Episódio Nº 141
Ricobayo, Pentecostes, Junho de 1126
À medida que a tarde caía, o ambiente ia ficando mais pesado na enorme tenda que Afonso VII mandara erguer à entrada da povoação de Ricobayo.
Desde as primeiras horas da
manhã que o novo rei recebia nobres galegos, leoneses e castelhanos. Os Trava,
com o pai, Pedro Froilaz à cabeça, haviam-lhe já beijado a mão, mas o encontro
com Dona Teresa fora adiado devido às ausências relevantes de Afonso Henriques
e dos senhores de Toronho e Celanova.
Foi já ao final da tarde que
o monarca coroado há poucas semanas mandou finalmente entrar a comitiva
portucalense, onde marcava presença o novo Mordono-Mor, Paio Soares e à qual se
haviam juntado Fernão Peres de Trava e seu irmão Bermudo.
Nervosa e pálida, Dona
Teresa beijou o sobrinho na mão e depois foi sentar-se num banco, enquanto o
Mordomo e os Trava se mantinham de pé, à frente do rei de Leão, Castela e
Galiza.
Aos vinte e um anos, Afonso
VII, parecia banhado em autoridade natural e carisma. Sagaz, falador mas
decidido, era também um homem vaidoso e apresentava uma riquíssima dalmática
roxa, que o cobria dos ombros aos pés, transportando na cabeça a magnífica
coroa do seu avô Afonso VI, incrustada de safiras, rubis e pérolas.
Da última vez que Dona
Teresa o vira, o sobrinho não usava barba, mas agora deixara-a crescer,
influenciado pelas novas modas, importadas de Bizâncio. Ouvi-o dizer:
- Segundo sei, tendes
pretensões a apresentar.
A custo, dominada por um
estranho mal estar, Dona Teresa amparou-se a Fernão Peres. Relembrou as antigas
decisões de seu pai, Afonso VI, e lá acabou por afirmar, de forma não muito
convicta, que se julgava no direito de ser rainha da Galiza, pois tinha sido
prejudicada em Toledo, e considerava ser aquele o momento da recompensa.
Durante anos governara com
mestria o Condado de Portucalense, rechaçara dois ataques do califa Ali
Yusuf a Coimbra e provera a união entre as
famílias do Norte e do Sul da velha Galécia, como os Romanos lhe chamavam,
consolidando a sua ligação à mais importante casa da região, com o matrimónio
entre a sua filha mais velha, Urraca Henriques e Bermudo de Trava.
Ao ouvi-la falar nesse
casamento o rei não evitou um sorriso jocoso mas nada disse. Dona Teresa
prosseguiu aludindo reconhecer a autoridade régia de Afonso VII, bem como a sua
vontade de, tal como o avô, ser coroado imperador de Hispânia.
Porém, ao fazê-lo, devia
permitir que ela ascendesse a rainha da Galiza.
No final deste longo
monólogo, o novo rei perguntou-lhe:
- Quantas horas terei de esperar por meu primo
Afonso Henriques?
Dona Teresa empalideceu um
pouco mais. E Gomes Nunes também se recusou a vir? E o pai da minha amiga
Teresa Celanova, sabeis dele? – questionou o rei.
Paio Soares deu um audaz
passo em frente e atreveu-se a dizer:
- Meu rei, sou Mordomo-Mor
de Dona Teresa e casei-me com Chamoa Gomes, filha de Gomes Nunes. A minha
esposa já está grávida e sua irmã Maria Gomes também vai casar-se também vai
casar-se em breve.
Com tantos afazeres gomes
Nunes viu-se obrigado a permanecer em Tui, enviando-me como seu representante,
pois sou seu genro.
O rei mirou-o demoradamente
e depois abanou a cabeça.
É ele que me tem de prestar
vassalagem, não vós. Pelo menos enquanto for vivo.
Paio Soares engoliu em seco,
perante a ameaça velada de Afonso VII, e nesse momento Dona Teresa sacudiu-se
com um súbito e inesperado voto, levando a mão à boca.
Fernão Peres olhou-a,
alarmado, mas o rei com um vislumbre de malícia na voz, perguntou:
- Estais de esperanças,
minha tia? Na vossa idade é uma ousadia!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home