sexta-feira, janeiro 22, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 160






















- Meu Deus, são pecados graves! Temos de avisar o Ramiro para pôr termo a isso! Ajuda-o Martinho, acredito que o farás bem.

Terminado este desagradável colóquio, Ramiro foi chamado e Gondomar revelou-lhe que o escolhera para liderar a Ordem na sua ausência.

Ele agradeceu o gesto e naturalmente aceitou, pois sabia que não havia entre os homens outro com mais capacidades.

Gondomar avisou-o de que poderia estar fora um ano, não regressaria no inverno, pois a sua saúde não lhe permitiria viajar, e esperava que Ramiro defendesse Soure dos sarracenos, caso a voltassem a atacar.

- Assim farei, prometeu o rapaz.

Recebidas as principais instruções, Ramiro tomou a iniciativa de revelar a Gondomar o seu encontro com a velha mulher de negro, à porta de uma caverna, e a pergunta que ela lançara, s o mestre «já tinha encontrado a relíquia».

O velho cavaleiro olhou-o com espanto:

 - Ela disse mais alguma coisa?

 - A mulher falara em «outros que ainda poderiam vir» e dissera que o mestre «não sabe para onde tem de olhar».

Também me avisou que os sarracenos estavam a chegar, o que se verificou ser verdade – acrescentou Ramiro.

Martinho, que parecia fascinado com o que ouvia, perguntou:

 - Era uma bruxa?

Ramiro contou que ela se vestia de preto, era velha e previa o futuro, além de conhecer muitas histórias do passado, coisa que o almocreve Mem também confirmara.

Intrigado, Gondomar interrogou-o.

 - Nunca mais a haveis visto?

O filho de Paio Soares disse que passara várias vezes pela entrada da caverna, que parecia abandonada, e acrescentou que a bruxa sabia também das mouras prisioneiras em Coimbra, e do assassin que as tentara matar.

Gondomar manteve-se algum tempo pensativo, e depois murmurou, como se o destinatário da pergunta fosse apenas o seu manto branco:

- Será que sabe onde a esconderam?

Então ordenou a Ramiro que encontrasse a bruxa. Quando voltasse de Cister iria falar com ela, mas agora era tempo de partir, o almocreve Mem já tinha chegado!

Dirigiu-se á carroça e, como no ano anterior, ambos seguiram na direcção de Coimbra.

Enquanto Ramiro e Martinho viam o veículo do almocreve afastar-se, o Rato, o Velho e o Ameixa aproximaram-se e o primeiro disse:

- Esperemos que os sarracenos não voltem a atacar-nos, como da primeira vez que o mestre se foi embora!

O seu tom de voz nasalado irritou Martinho, que declarou a Ramiro:

 - Temos de conversar sobre as casotas!

O outro perguntou o que de mal se passava e o pároco e o pároco explicou-se:

- Deus não gosta de homens que dormem uns com os outros. Uma coisa é partilhar o cavalo, outra é partilhar o corpo!


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