(Domingos Amaral)
Episódio Nº 160
- Meu Deus, são pecados
graves! Temos de avisar o Ramiro para pôr termo a isso! Ajuda-o Martinho,
acredito que o farás bem.
Terminado este desagradável
colóqui o, Ramiro foi chamado e
Gondomar revelou-lhe que o escolhera para liderar a Ordem na sua ausência.
Ele agradeceu o gesto e
naturalmente aceitou, pois sabia que não havia entre os homens outro com mais
capacidades.
Gondomar avisou-o de que
poderia estar fora um ano, não regressaria no inverno, pois a sua saúde não lhe
permitiria viajar, e esperava que Ramiro defendesse Soure dos sarracenos, caso
a voltassem a atacar.
- Assim farei, prometeu o
rapaz.
Recebidas as principais
instruções, Ramiro tomou a iniciativa de revelar a Gondomar o seu encontro com
a velha mulher de negro, à porta de uma caverna, e a pergunta que ela lançara,
s o mestre «já tinha encontrado a relíqui a».
O velho cavaleiro olhou-o
com espanto:
- Ela disse mais alguma coisa?
- A mulher falara em «outros que ainda
poderiam vir» e dissera que o mestre «não sabe para onde tem de olhar».
Também me avisou que os
sarracenos estavam a chegar, o que se verificou ser verdade – acrescentou
Ramiro.
Martinho, que parecia
fascinado com o que ouvia, perguntou:
- Era uma bruxa?
Ramiro contou que ela se
vestia de preto, era velha e previa o futuro, além de conhecer muitas histórias
do passado, coisa que o almocreve Mem também confirmara.
Intrigado, Gondomar
interrogou-o.
- Nunca mais a haveis visto?
O filho de Paio Soares disse
que passara várias vezes pela entrada da caverna, que parecia abandonada, e
acrescentou que a bruxa sabia também das mouras prisioneiras em Coimbra, e do assassin que as tentara matar.
Gondomar manteve-se algum
tempo pensativo, e depois murmurou, como se o destinatário da pergunta fosse
apenas o seu manto branco:
- Será que sabe onde a
esconderam?
Então ordenou a Ramiro que
encontrasse a bruxa. Quando voltasse de Cister iria falar com ela, mas agora
era tempo de partir, o almocreve Mem já tinha chegado!
Dirigiu-se á carroça e, como
no ano anterior, ambos seguiram na direcção de Coimbra.
Enquanto Ramiro e Martinho
viam o veículo do almocreve afastar-se, o Rato, o Velho e o Ameixa
aproximaram-se e o primeiro disse:
- Esperemos que os
sarracenos não voltem a atacar-nos, como da primeira vez que o mestre se foi
embora!
O seu tom de voz nasalado
irritou Martinho, que declarou a Ramiro:
- Temos de conversar sobre as casotas!
O outro perguntou o que de
mal se passava e o pároco e o pároco explicou-se:
- Deus não gosta de homens
que dormem uns com os outros. Uma coisa é partilhar o cavalo, outra é partilhar
o corpo!
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