sexta-feira, janeiro 15, 2016

Do Rovuma ao Maputo

Moçambique

























Saí de Moçambique em Setembro de 1975, pouco tinha passado ainda da sua independência, a 25 de Junho. Nesse dia saí da cidade da Beira onde vivia porque haveria, de certo, festejos e não quis estar presente.

Tinha colaborado na organização das Festas, a pedido do Governador Cangela de Mendonça, mas havia estados de espírito muito diferentes entre os moçambicanos e eu tinha o pressentimento de que esses Festejos seriam o prelúdio de confusões sociais.

Mais de quarenta anos passaram sobre essas datas e o problema mais grave, para além da crónica dificuldade do desenvolvimento económico e criação de riqueza, e depois de uma guerra civil de 1977 até 1992  que custou um milhão de mortos, em combate e fome, continua a ser o problema político, que embora tenha muitas justificações, radica numa questão comum a todos os territórios colonizados e que ascenderam à independência dentro das fronteiras traçadas pelos países colonizadores.

Essas fronteiras, muitas traçadas a régua e esquadro, uma delas por Gago Coutinho, que eu percorri de jeep, no leste de Angola, chegavam ao ponto de separar os habitantes de uma mesma aldeia, não levaram em linha de conta, como se percebe, a organização social e política das populações instaladas no território.

Era, pois, um problema que estava na sua génese, nas suas fronteiras, que eram da responsabilidade das potências colonizadoras e, portanto, artificiais para as suas gentes.

Em Moçambique, senti o problema do tribalismo, advinhava-se a guerra que nem Samora Machel com o seu grande carisma de líder político,  visível no brilho do seu olhar que eu tive oportunidasde de conhecer, conseguiu evitar.

Percebi que os “colonialistas”, que éramos nós portugueses – nãon havia lá outros – foram servindo durante algum tempo como “inimigo” comum para desviar o problema das rivalidades tribais mas, era evidente, que depressa se esgotaria.

Tínhamos ali duas partes que se apresentavam como inimigas: uma, a Frelimo, liderada por Samora Machel, apoiada no ex-bloco da União Soviética e pela Tanzânia e a outra, a Renamo, que reivindicava o Centro e o Norte do território, liderada por Afonso Dlhakama apoiado, inicialmente  pela Rodésia, África do Sul e Malawi.

Passou a guerra, fez-se a paz e hoje, passados mais de 40 anos, continua a ler-se como notícia: “Dhlakama vai tomar o poder?”... e a principal preocupação do governo do país  é protegê-lo de um novo conflito militar apostando tudo no diálogo com o líder da Renamo.

Do extremo Norte, foz do Rio Rovuma até à Ponta do Ouro, a Sul, são mais de dois mil quilómetros o que ajuda a explicar a diferença dos povos e a influencia do tribalismo nos partidos políticos do país que teima em voltar sempre ao de cima.

O ano de 2016 irá ser de alto grau de incerteza, diz José Macuane, analista e Prof. de Ciência Política... tal como o era em Setembro de 1975, quando saí da cidade da Beira, há mais de 40 anos!

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