Do Rovuma ao Maputo |
Moçambique
Saí de Moçambique em Setembro de 1975, pouco tinha passado ainda da sua independência, a 25 de Junho. Nesse dia saí da cidade da Beira onde vivia porque haveria, de certo, festejos e não
Tinha colaborado na organização das Festas, a pedido do
Governador Cangela de Mendonça, mas havia estados de espírito muito diferentes
entre os moçambicanos e eu tinha o pressentimento de que esses Festejos seriam
o prelúdio de confusões sociais.
Mais de quarenta anos passaram sobre essas datas e o problema
mais grave, para além da crónica dificuldade do desenvolvimento económico e
criação de riqueza, e depois de uma guerra civil de 1977 até 1992 que custou um milhão de mortos, em combate e fome, continua a ser
o problema político, que embora tenha muitas justificações, radica numa questão
comum a todos os territórios colonizados e que ascenderam à independência
dentro das fronteiras traçadas pelos países colonizadores.
Essas fronteiras, muitas traçadas a régua e esquadro,
uma delas por Gago Coutinho, que eu percorri de jeep, no leste de Angola,
chegavam ao ponto de separar os habitantes de uma mesma aldeia, não levaram em
linha de conta, como se percebe, a organização social e política das populações
instaladas no território.
Era, pois, um problema que estava na sua génese, nas
suas fronteiras, que eram da responsabilidade das potências colonizadoras e,
portanto, artificiais para as suas gentes.
Em Moçambique, senti o problema do tribalismo,
advinhava-se a guerra que nem Samora Machel com o seu grande carisma de líder
político, visível no brilho do seu olhar
que eu tive oportunidasde de conhecer, conseguiu evitar.
Percebi que os “colonialistas”, que éramos nós
portugueses – nãon havia lá outros – foram servindo durante algum tempo como “inimigo”
comum para desviar o problema das rivalidades tribais mas, era evidente, que
depressa se esgotaria.
Tínhamos ali duas partes que se apresentavam como
inimigas: uma, a Frelimo, liderada por Samora Machel, apoiada no ex-bloco da
União Soviética e pela Tanzânia e a outra, a Renamo, que reivindicava o Centro
e o Norte do território, liderada por Afonso Dlhakama apoiado, inicialmente pela Rodésia, África do Sul e Malawi.
Passou a guerra, fez-se a paz e hoje, passados mais de
40 anos, continua a ler-se como notícia: “Dhlakama vai tomar o poder?”... e a
principal preocupação do governo do país é protegê-lo de um novo conflito militar
apostando tudo no diálogo com o líder da Renamo.
Do extremo Norte, foz do Rio Rovuma até à Ponta do Ouro,
a Sul, são mais de dois mil qui lómetros
o que ajuda a explicar a diferença dos povos e a influencia do tribalismo nos
partidos políticos do país que teima em voltar sempre ao de cima.
O ano de 2016 irá ser de alto grau de incerteza, diz
José Macuane, analista e Prof. de Ciência Política... tal como o era em
Setembro de 1975, quando saí da cidade da Beira, há mais de 40 anos!
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