(Domingos Amaral)
Episódio Nº 186
Fiquei desarmado com a sua doçura, e todos
percebemos que não era concebível qualquer tramóia suja por parte daquela
mulher, cujo coração era bom.
Então Paio Mendes perguntou-lhe:
- O
que ireis propor ao rei?
Teresa lembrou que, indo Afonso VII a
Compostela agradecer ao apóstolo as suas vitórias no Leste, Afonso Henriques
poderia acompanhá-lo em peregrinação, num gesto bonito e simbólico, honrando
também os feitos do seu primo, o que, certamente muito lhe agradaria.
Amansado o rei, a vassalagem podia ser
adiada, marcando-se novo encontro para Toledo, aquando do segundo aniversário
da coroação.
Para Afonso Henriques, aquela seria uma
forma elegante de sair do cerco sem humilhação de uma derrota, mas com o dever
de uma promessa.
Quando ela terminou, todos ficaram
pensativos, enquanto Gonçalo tamborilava os dedos e murmurava:
-
Ela conhece-o muito melhor do que nós.
Teresa de Celanova perante o malicioso
comentário, replicou:
- É bem verdade, Gonçalo. Conheço o
Raimundes há muito e sei que, ao contrário do seu avô e de sua mãe, não é cruel
com a família.
Afonso Henriques é seu primo, sempre
gostou dele e estou certa de que prefere rezar a seu lado do que guerreá-lo.
De testa franzida, meu tio Ermígio Moniz
perguntou à cunhada:
- E
se o rei recusar?
A bela mulher sorriu, confiante, e
declarou:
-
Se for eu a falar com ele estou certa de que não recusará.
Ouviu-se, mais uma vez, a voz sibilina do
Gonçalo:
-
Também tenho a certeza disso...
Mais uma vez, Paio Mendes fuzilou-o com o
olhar, mas depois virou-se para o príncipe e argumentou:
-
De momento, o fundamental é salvar Guimarães!
Sem
alternativas, Afonso Henriques, deu o seu aval à ideia e nessa mesma tarde uma
comitiva dirigiu-se à tenda do rei de Leão, Castela e Galiza, tendo regressado
já a noite caíra.
Na mesma sala onde havíamos estado horas
antes, o meu pai declarou sorridente que o cerco seria levantado nas condições
propostas.
Uma sensação geral de alívio instalou-se,
e houve logo quem visse outros méritos na situação.
O Trava vai ficar furioso! – exclamou
Gonçalo.
Todos nos rimos, mas Afonso Henriques,
ainda agastado com a emboscado de que fora vítima, proclamou que em Compostela,
avisaria seu primo de que iria guerrear o Trava e sua mãe!
-
Não aceito mais traições! Além disso, o povo está contra eles. Há fome em
Coimbra e em Viseu, enquanto aqui se
vive melhor.
O Governo do Condado está nas mãos
erradas!
Depois agradeceu a Teresa de Celanova a
iniciativa, tendo ela contraposto que teria muito gosto em acompanhá-lo à
catedral do apóstolo de Santiago, o que levou Gonçalo a murmurar:
- É evidente...
Desta vez meu pai enervou-se. Ao contrário
de minha esposa, Maria Gomes, Maria Gomes, que já engravidara, Teresa ainda não
o conseguira, e meu pai temia que o antigo afecto dela pelo rei se reacendesse.
- Tendes de regressar a Lamego, meus
filhos precisam de quem lhes dê atenção! – exclamou.
Admirada, Teresa protestou:
-
Mas fui eu que convenci o rei! E já não vou a Compostela há anos , quero rezar
junto do apóstolo, por vós e por vossos filhos!
No seu canto, Gonçalo, murmurou de novo:
- É
evidente...
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