(Domingos Amaral)
Episódio Nº 197
Na gruta, a mulher estava deitada no seu
colchão, coberta por uma manta. O fedayin
caiu sobre ela e em poucos instantes amarrou-a com uma corda e obrigou-a a
ajoelhar-se.
A mulher parecia confundida como se não
acreditasse que tinha sido incapaz de o escutar a aproximar-se.
- Quem sois vós? – perguntou.
A Morte com Duas Pernas deixou cair os
trapos que o cobriam e retirou da mochila uma túnica totalmente branca, que
vestiu e um cinto encarnado que a apertou.
Agora, era de novo o assassin. A bruxa examinou-o melhor e depois disse:
- Sois a morte que ceifou os doentes em
Coimbra, há onze anos, junto ao Mondego, e a morte que degolou os leprosos o
ano passado.
Intrigada, perguntou:
-
Porque haveis voltado?
O fedayin
nada disse. Então, a mulher acrescentou:
-
As mouras estão na Galiza há mais de um ano. Num primeiro momento, o fedayn ficou surpreendido e até
contrariado. Depois encolheu os ombros e murmurou:
-
Posso esperar o tempo que for preciso. Abu Zakaria está preso em Santarém, não
vem tão cedo.
A bruxa não mostrou qualquer sinal de
espanto, e o fedayn concluiu que ela
devia ter amigos em Santarém.
Olhou para o canto da caverna, viu uma gaiola com dois corvos
e perguntou.
- Para quem os mandais?
A bruxa desprezou-o:
-
Nunca ireis descobrir:
A Morte com Duas Pernas continuou o
interrogatório.
- Porque haveis ajudado as mouras?
Como a mulher vestida de negro se recusou a
responder, o fedayn contou o que
soubera em Códova, e ela estremeceu num espasmo de pavor. O fedayn riu-se:
- Uma bruxa com medo... quem diria?
Sabia que ela viera para Coimbra há doze
anos, aquando do primeiro cerco de Ali Yusuf, atrás das três mouras, sempre a
guardá-las, como um anjo vigilante.
Depois, quando elas ficaram prisioneiras
dos cristãos, tinha-se instalado naquela gruta, protegendo-as à distância.
- Porquê? – perguntou o fedayn
A mulher permaneceu calada e por isso ele
acrescentou:
-
Sei quem elas são, e porque o califa as quer mortas. Fui eu que matei Taxfin no
castelo de Hisn. E também a criada dele.
A bruxa mordeu os lábios e parecia ir
lançar-lhe uma questão, mas não o fez. O fedayn
disse:
-
Sabeis quem elas são.
A bruxa pareceu então ganhar coragem e
abanou a cabeça.
Não sei o que vos disseram mas não é
verdade. Só as conheci o ano passado quando vieram à minha caverna.
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