terça-feira, fevereiro 09, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 185



















O rei não quis hostilizar Paio Soares, apenas quis submeter meu pai – interpretou minha esposa, Maria Gomes.

O arcebispo enfureceu-se, olhando para o príncipe:

 - Este ataque é contra vós!

Ao saber que tempos antes, Guimarães cedera metade da guarnição a Coimbra, Paio Mendes ainda mais se exaltou:

 - Mas por quê? Não há tropas mouras daqui até Badajoz!

Miguel Salomão, que troca correspondência semanal com o João Peculiar, disse-nos que não ocorreram mais do que pequenas escaramuças com os sarracenos!

O príncipe compreendeu, então, a armadilha em que caíra.

Conhecendo de antemão a invasão de Afonso VII, a mãe e o Trava tinham-no fragilizado intencionalmente para que o primo o pudesse subjugar!

Fora traído pela segunda vez. Furioso, exclamou:

 - Jamais me renderei! Morrerei em Guimarães se for preciso!

Revoltado por o ver assim, perguntei:

 - Quem poderemos chamar? O braganção?

Meu pai abanou a cabeça descrente:

 - Está longe e demora semanas a reunir tropas.

Gonçalo de Sousa, recém -entrado na sala, adiantou também que não dispunha de mais de cem homens.

Então, lembrei-me de sugerir:

 - Mandemos mensageiros a Baião, a Bastos, a Lafões, a Lanhoso, a Ponte de Lima, a Lamego!

Meu pai, Egas Moniz, lamentou-se, era tarde para um toque a rebate, Afonso VII chegaria dentro de horas e cercaria a cidade.

Vindos de onde viessem, quaisquer reforças seriam presa fácil.

Ainda irado, Afonso Henriques levantou-se e proclamou:

 - Pois que nos cerque! Deixem o povo entrar e fechem as portas da muralha!

Desalentado e raivoso, o meu melhor amigo isolou-se a tarde toda no quarto. Sabia que Guimarães, por mais prosperidade que houvesse à sua volta, não tinha de momento, capacidade para resistir a um cerco prolongado, nem guarnição para defender contra três mil leoneses e castelhanos.




Durante sete dias, as tropas de Afonso VII cercaram Guimarães. O desejo do rei era claro: queria apenas que Afonso Henriques lhe prestasse vassalagem.

Se tal acontecesse, levantaria o cerco. Caso contrário, lançaria as tropas contra a cidade.

Na manhã do sétimo dia, meu pai, Egas Moniz, entrou na sala seguido por sua esposa, Teresa de Celanova. À roda da grande mesa, além do príncipe, estavam sentados, Paio Mendes, João Peculiar, Ermígio Moniz, eu e Gonçalo de Sousa, à frente do qual se via uma caneca de vinho.

Ao ver aparecer a esposa de meu pai, este último murmurou:

 - E se mandássemos esta ao primo?

Paio Mendes olhou-o, zangado, mas Teresa de Celanova pegou na deixa e recordou que conhecia Afonso Raimundes muito bem, e poderia propor-lhe uma solução pacífica.

Nesse momento, recordo-me de ver grande desconforto em meu pai e indignei-me:

 - Não podeis ir sozinha, Afonso VII ainda vos rapta!

Teresa de Celanova garantiu-me que esse era um perigo inexistente, mas que, evidentemente, seu marido a acompanhava, acrescentando:


- Podeis vir também, Lourenço Viegas.   

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