É o anterior a este... |
O
meu telemóvel...
Já ninguém tem um telemóvel como o meu,
pequenino, rectangular, cabe na palma da mão e só serve para fazer e receber
chamadas.
Ninguém, é uma forma de dizer. Parece
que, em tempos, o governo distribuiu telefones destes aos velhotes que vivem
isolados por esse interior de Portugal para poder saber deles e receber
notícias em casos de necessidade.
O meu não foi oferecido, mas eu também
não vivo isolado, felizmente, embora já seja velho...
Não gosto de falar ao telefone, não vejo
a cara dos meus interlocutores, especialmente o olhar, não sei se estão com
atenção ao que lhes digo ou se me estão a tirar a língua de fora.
No entanto, na casa onde nasci, há mais
de setenta anos, os meus pais tinham telefone e ainda carreguei na minha
memória, por uns 50 anos, o número dele. Finalmente, cansei-me e tenho pena
porque recordar é viver...
... Levantávamos o auscultador e a
menina, do outro lado, perguntava: “numro?”, soava assim, muito rápido, nós dizíamos o número e, de
seguida, o ruído do tirar cavilha e meter cavilha até que soava o
barulho do Trim-Trim, Trim - Trim.
Era esta a maravilha da tecnologia da
comunicação com fios no Ano de 1939, que fazia a delícia das senhoras que
tinham telefone e não tinham que fazer, para alem de falarem horas esquecidas
umas com as outras... ao telefone.
Sou um saudosista e lembro-me sempre
desses telefones quando, à minha volta, no comboio Regional de Santarém para
Lisboa, as pessoas, especialmente jovens, puxam das suas “máqui nas”, põem os "fones" nos ouvidos, e os dedos
treinados, deslizam rápidos por cima do mostrador.
Percebo que, em matéria de telefones,
pertenço ao tempo da pedra lascada. Se fosse índio das Américas estaria a falar
por mensagens de fumo, tapando e destapando, com uma manta, o a fogueira feita de
propósito.
Felizmente, para a indústria da
especialidade, e para o desenvolvimento dos povos, eu serei uma perfeita
excepção no que toca a telemóveis mas que, no entanto, passa horas diariamente
à frente do computador, utilizando a sua extraordinária tecnologia, para
publicar este Blog através do qual todos os dias vos escrevo.
Enfim, paradoxos...
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