segunda-feira, fevereiro 29, 2016

José Saramago
O Evangelho Segundo

Jesus Cristo 


















O escritor israelita mais importante de momento, Amos Oz, na entrevista que deu a propósito do seu mais recente romance, O Evangelho segundo Judas, para fugir à questão da crucificação, respondeu com uma graça, dizendo que não estava lá, por ter ido ao dentista...

Não conheço este Evangelho de Amos Oz, mas tive o prazer de ler o Evangelho Segundo Jesus Cristo, que recordo como um romance de grande ternura e humanidade, pelo que me senti duplamente revoltado pelo que lhe fizeram no Governo de Cavaco em que um seu Secretário de Estado, Sousa Lara, por uma questão de zelo religioso, impediu, apoiado pelo 1º Ministro, o Evangelho de Saramago de se candidatar a um prémio literário.

Cavaco Silva, que sai agora, no próximo dia 9, pela porta baixa e dos fundos, de Presidente da República, não deixou, antes de se ir embora, de condecorar Sousa Lara que continua muito orgulhos da decisão que tomou.

Saramago romanceou, naquele livro, uma história inspirada na vida de Jesus que, naturalmente, não é um livro religioso, contra ou a favor a religião católica, até porque, José Saramago, é ateu e, se alguma figura, na história desta religião, lhe despertaria simpatia, seria, sem dúvida, Jesus da Nazaré, que lutou à sua maneira contra os vícios da religião judaica e, principalmente, contra a ocupação militar do seu povo pelos Romanos.

José Saramago não acredita em Deus e, portanto, no momento crucial da história, o da crucificação, pôs-lhe na boca, palavras que condenam Deus e não os homens:

- “Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. 

Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo também, nem eu posso fazer- te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas.

Ainda havia nele um resto de vida quando sentiu que uma esponja embebida em água e vinagre lhe roçava os lábios, e então, olhando para baixo, deu por um homem que se afastava com um balde e uma cana ao ombro.

Já não chegou a ver, posta no chão, a tigela negra para onde o seu sangue gotejava”.


Com estas palavras, termina o romance de José Saramago, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que eu gostaria que lessem. A mim enterneceu-me talvez porque, sendo ateu como Saramago, opto pelos homens, os verdadeiros heróis da epopeia de uma história mais comprida, começada, na sua fase final, há duzentos mil anos, lá para a ponta Sul do Continente Africano, que é a da humanidade.

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