(Domingos Amaral)
Episódio Nº 221
Cada vez mais furioso,
acusou:
- Haveis desprezado os
nobres, o clero e o povo, que vive na miséria! Vós sois a traidora, haveis
trocado o Condado pelo Trava!
Com um grito zangado,
exclamou:
- Haveis traído a memória de meu pai desde Há
muitos anos!
Ao ouvir falar no Conde
Henrique, Dona Teresa reagiu, finalmente:
- Nunca traí a memória de vosso pai, sempre
lutei pelos seus territórios! A Galiza deve ser nossa! É essa a minha luta!
- Mentis, sempre haveis mentido. Sabeis bem
que foi vossa irmã, com a vossa colaboração, que mandou envenenar meu pai! Não
prestais! Sois como vossa irmã Urraca, doida varrida!!
Nesse momento, Afonso
chamou-me. Entrei na tenda e vi-o apontar para a mãe, enquanto ordenava:
- Lourenço Viegas, põe-na a ferros, nas
masmorras de Guimarães!
Fiquei surpreendido com a
ordem, mas Afonso Henriques repetiu-a, e então chamei alguns guardas, aproximei-me
e prendi Dona Teresa. Ela teve um ataque de fúria, mas não conseguindo
libertar-se, berrou:
- Se me prendeis com ferros, um dia os ferros
vos colherão também!
Assustei-me com aquela
maldição que a mãe lançava ao filho e murmurei ao ouvido do meu melhor amigo:
- Não a prendeis com ferros, é vossa mãe!
Mas ele não se comoveu, e
ficou-me para sempre no coração o temor de que um dia aquela maldição se iria
concretizar.
Ainda o sinto hoje, tantos
anos depois.
Guimarães, Julho de 1128
Os dias que se seguiram à
vitória na batalha de São Mamede foram de júbilo geral entre os portucalenses,
mas também de vistoso reboliço em Guimarães.
A cidade estava em festa e
acorreram a ela as mais importantes figuras do Condado. Os primeiros a chegar
foram o Braganção e Sancha Henriques, que prestou o seu apoio incondicional ao
irmão, embora tenha igualmente intercedido pela mãe e pelo cunhado Bermudo.
Em parelha com a irmã Urraca
Henriques, convenceu Afonso Henriques a libertá-lo, o que aconteceu cinco dias
após a batalha. Depois de destituir Bermudo do posto de governador de Viseu, o
príncipe mandou exilá-lo em Seia.
O esbaforido Gomes Nunes,
sabendo da vitória, veio também prestar-lhe a sua homenagem apressada e
interesseira.
Desiludido, Afonso Henriques
perguntou-lhe:
- Porque não haveis cumprido a vossa promessa
de Tui?
- Atrapalhado, o pai de
Chamoa justificou-se com a sua periclitante posição: era sogro de Paio Soares,
cunhado dos Travas, apoiar o príncipe podia ser-lhe fatal em caso de derrota.
- Mas, agora que venci,
estais do meu lado... – comenta Afonso Henriques.
Desagradado, não garantiu
protecção de Toronho contra Afonso VII, a não ser que Gomes Nunes conseguisse
convencer Chamoa a casar-se com ele , logo que Paio Soares morresse.
- Se o fizerdes protejo-vos e a Tui – disse o
príncipe.
O atarantado Gomes Nunes,
com a mulher Elvira atrelada, saiu do castelo aflito, quase ao mesmo tempo que
deu entrada pelas portas da muralha o arcebispo Paio Mendes, que muito
satisfeito ficou quando Afonso Henriques lhe jurou ir lutar pelos direitos de
Braga, defendendo a cidade episcopal contra Compostela, numa missiva que foi
imediatamente enviada ao papa.
Os portucalenses nunca se
haviam sentido tão unidos e, à roda do seu príncipe, os nobres, os
ricos-homens, o clero e o povo de Entre-Douro e Minho celebraram alegremente
aqueles tempos em que nascia mais uma nação.
Houve mesmo uma forte
emoção, quando Afonso Henriques, assinando o seu primeiro documento como
governante, usou um florão e a palavra Portugal para o autenticar.
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