(Domingos Amaral)
Episódio Nº 220
A rapariga mostrou um ar
preocupado:
- E vossa mãe? As meninas
precisam dela!
O príncipe garantiu que Dona
Teresa se iria juntar às filhas mais tarde e, olhando para trás, pediu aos seus
companheiros se mantivessem fora da tenda, pois queria conversar a sós com a mãe.
A única que não cumpriu
aquele pedido foi a minha prima Raimunda, que furtivamente se escapuliu,
contornando a tenda e rastejando entrou pelas traseiras, escondendo-se atrás de
um baú.
Contou-me que Dona Teres
estava sentada num banco, de olhos vermelhos, percebia-se que tinha chorado. Ao
ver o filho entrar levantou-se.
- O Fernão, que lhe haveis feito?
Afonso Henriques olhou a mãe
demoradamente. A última vez que a vira fora em Viseu, mais de dois anos antes. Parecia-lhe
envelhecida, com rugas pronunciadas, e também mais abatida, mas isso era
compreensível, pois tivera uma filha há pouco tempo, além de ter perdido uma
batalha fundamental.
Está preso nas masmorras de
Guimarães.
Dona Teresa enfureceu-se:
- Preso? Não o podereis prender! Sou a rainha
deste condado, ordeno-vos que o liberteis!
Afonso Henriques abanou a
cabeça.
Já não podeis falar assim.
Declarou que a mãe já não
era regente do Condado Portucalense. Perdera a batalha e a partir dali seria
ele a mandar. Irada, Dona Teresa explodiu:
- Como vos atreveis? Afonso
VII nunca o permitirá.
Afonso Henriques olhou em
volta e murmurou.
- Não o vejo aqui . E sabeis bem que não vai meter-se entre nós.
Dona Teresa, cada vez mais
enfurecida, gritou:
- Maldito! O Fernão é que
tinha razão! Sois um traidor!
Lançou as suas acusações,
alegou que o filho se armara cavaleiro em Zamora, provocando Afonso VII e colocando-a
a ela num terrível embaraço, e que se recusara a prestar vassalagem ao rei,
obrigando-o a cercar Guimarães, para grande desonra do Condado!
Afonso Henriques apenas
murmurou:
- Traidor, eu?
Depois, em voz solene e
firme interrogou a mãe:
- Afastais os portucalenses do governo do
Condado, nomeais os Trava para governadores, ignorais os pedidos do arcebispo
de Braga, e eu é que sou traidor?
Dona Teresa recuou um pouco
e Afonso Henriques continuou:
- Desejais um filho varão com o Trava, para me
retirares os meus direitos sucessórios, planeais matar-me, e eu é que sou
traidor?
A mãe estava atordoada com a
força dos argumentos do filho.
Vindes até Guimarães
atacar-me no meu castelo, na cidade onde eu nasci e o meu pai vivia, e eu é que
sou traidor?
Dando mais um passo em
frente, o príncipe insistiu:
- Em Viseu peço-vos para casar com Chamoa,
para unir a nossa família aos Travas, e vós quebrais a promessa que me haveis
feito, casando-a com Paio Soares e eu é que sou traidor?
Respirando fundo, tentando
controlar a sua ira, Afonso Henriques exclamou por fim:
- A traidora sois vós! Vós que vos
amancebaste com os Trava, primeiro com o Bermudo, depois com o Fernão! E ainda
por cima haveis obrigado a vossa filha mais velha a casar com o vosso antigo
amante!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home