(Domingos Amaral)
Episódio Nº 222
- Seremos independentes,
sempre! – exclamou meu pai, Egas Moniz.
Todos estávamos eufóricos,
mas notei que uma única situação ensombrava o coração do nosso príncipe de
Portugal. Paio Soares continuava moribundo, na tenda do provisório acampamento
de Dona Teresa.
As mesinhas, os pós e os
cuidados de Zulmira haviam estancado o sangue e as infecções mas o seu estado
geral era grave e ninguém arriscava uma previsão opt imista.
Ao qui nto
dia, verificando que a situação do marido não se agravara, Chamoa tomou a
iniciativa de partir com as três mouras, transportando o enfermo numa carroça
até Maia, enquanto seus pais regressavam cabisbaixos a Tui.
Com a partida da sua paixão,
a mortificação e a tristeza abateram-se sobre Afonso Henriques e foi talvez
devido a esse estado de melancolia que o príncipe de Portugal reagiu mal quando
meu pai e sua esposa lhe relembraram a promessa, feita meses antes a Afonso
VII, de ir a Toledo prestar-lhe homenagem.
Teresa de Celanova estava,
naturalmente, desejosa que essa viagem acontecesse, e o malicioso Gonçalo não
deixou de o notar.
- Não pensa noutra coisal...
Meu pai zangou-se cansado
daqueles remoques. Porém, o que mais surpreendeu os presentes foi a recusa
perentória de Afonso Henriques de realizar a viagem.
- Que dizeis? – espantou-se
meu pai – Haveis prometido!
O príncipe franziu a testa:
- A Galiza é nossa. Enquanto meu primo não o
reconhecer, não lhe presto vassalagem!
Espantado, meu pai
perguntou:
- Desejais ser rei da Galiza?
Na sala nem todos estavam
interessados naquela celeuma.
O Braganção dava peidos,
justificando-se com os feijões que comera; o arcebispo Paio Mendes sorria,
agradado por se manter acesa a querela com Compostela; meu tio Ermígio
suspirava pensando que a guerra só agora estava a começar; Soeiro de Sousa e
seu filho Gonçalo trocavam olhares cúmplices sobre a Celanova; e eu estava
preocupado com minha esposa Maria, que decidira seguir a irmã até Maia.
Por fim, a um canto, o
recém-chegado Peres Cativo mantinha-se à margem das polémicas.
Meu pai deu então um passo em frente. Só ele e meu
tio Ermígio se podiam dirigir ao príncipe pelo nome inicial, pois haviam-no
educado.
- Afonso, dei a minha
palavra, é a minha honra que está em causa! Prometi a Afonso VII, para salvar
esta nossa cidade, a vossa vassalagem, se ele levantasse o cerco!
Fi-lo em vosso nome e o rei
cumpriu a sua palavra. Em Compostela, Afonso VII admitiu a possibilidade de vós
serdes rei da Galiza, sendo ele Imperador!
Indiferente àqueles
argumentos, Afonso Henriques encolheu os ombros.
Meu primo que me garanta
primeiro Astorga, Zamora, Límia, Celanova e Tui! Estou farto de mentiras e vou
lutar pelos meus direitos.
Indignado com tanta
teimosia, meu pai perguntou:
- Porque está vossa mãe nas masmorras? Afonso
VII nunca fará rainha da Galiza uma prisioneira a ferros!
Um rumor crítico percorreu a
assistência. Era evidente que muitos não estavam de acordo com aquele
encerramento. O Trava, a todos dava gozo que estivesse preso, mas Dona Teresa,
apesar dos seus erros, era rainha de Portugal, não sendo justo mantê-la
enjaulada como se de um animal feroz se tratasse.
Capt ando
essa primeira e subtil revolta, o príncipe foi lesto a anunciar a decisão:
- Minha mãe será levada para o castelo de
Lanhoso, onde ficará viver na companhia das suas filhas mais novas. Não poderá
de lá sair, nem receber visitas do Trava durante um ano.
Um alívio geral distendeu a
sala.
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