(Domingos Amaral)
Episódio Nº 228
Um ano depois, a Galiza
parecia tranqui la, e Afonso VII
permanecia no Leste, entretido nas lutas contra Afonso de Aragão ou contra os
sarracenos.
Governado habilmente por
Afonso Henriques, o Condado de Portucalense prosperava. Porém, nas questões de
coração, o meu melhor amigo continuava confundido.
Minha prima Raimunda, sua
amante há anos, morrera afogada nas aguas do Tejo, não sendo sequer possível
recuperar o corpo para lhe proporcionar um enterro digno.
Sem ela por perto, o
príncipe atirara-se em definitivo para os braços de Elvira. Mandava buscá-la a
Lanhoso uma ou duas vezes por mês, e folgava com a Normanda.
Contudo, por melhor que
fossem essas refregas, o seu coração continuava saudoso da galega e Elvira
sabia disso.
Tenho aqui de reconhecer que a normanda tinha uma qualidade
excelente: não só não era ciumenta, como estava perfeitamente consciente de que
o coração do príncipe batia pela outra, e incentivava-o a visitar Chamoa na Maia,
mesmo quando Paio Soares morria lentamente.
Porém, o orgulhoso príncipe,
nunca seguiu tal conselho.
Quando, finalmente, Paio
Soares faleceu, no início de Junho, Afonso Henriques recusou-se a ir às exéqui as e esperou que fosse Chamoa a vir visitá-lo em
Guimarães, oferendo-lhe o seu amor.
Elvira abanara a cabeça e
comentara:
- Assim ireis perdê-la.
Chamoa não só nunca veio a
Guimarães, como jamais o chamou a Maia, e a primeira notícia que dela teve
depois da morte do marido, foi dada por minha esposa Maria: Chamoa iria entrar
num mosteiro!
Odiando-se por não ter ouvido
melhor as palavras sábias da sua amorosa amiga normanda, Afonso Henriques
resolveu cavalgar depressa ao encontro da rapariga galega, e naquela tarde
apresentou-se à porta do mosteiro de Vairão.
Foram Gonçalo, primeiro, e
depois Zaida que me descreveram o que por lá se passou.
Além dos três filhos de
Chamoa, estavam presentes o seu pai, Gomes Nunes, as mouras Zulmira, Fátima e
Zaida, sua mãe Elvira e para grande surpresa do príncipe também o tio da
rapariga, Fernão Peres de trava, bem como o primo dela, Mem Ramires de Tougues.
Irritado, Afonso Henriques
exigiu falar a sós com Chamoa.
À porta do Mosteiro, a
rapariga afastou-se dos familiares e ele logo lhe declarou:
- Vou levar-vos para Guimarães comigo!
Apesar da viuvez, ela
continuava linda, os seus cabelos cor de mel apanhados em tranças, enrolados
pelas delicadas mãos de Zaida.
Prometi a meu marido que não
me casaria convosco – afirmou.
Afonso Henriques abanou a
cabeça, desagradado.
Não haveis nascido para
monja!
Chamoa entristeceu-se e
murmurou:
- Não me conheceis tão bem assim...
O príncipe rebelou-se:
- A vossa tristeza vai
passar, mas o vosso amor por mim vai durar!
Todavia, nos olhos verdes
dela já não havia ternura do passado, só ressentimento e protestou com veemência:
- Como posso amar quem não cumpriu o
prometido? Não faleis de amor, pois vossas palavras são falsas!
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