quinta-feira, março 31, 2016

Assim Nasceu Portugal  
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 228





















Um ano depois, a Galiza parecia tranquila, e Afonso VII permanecia no Leste, entretido nas lutas contra Afonso de Aragão ou contra os sarracenos.

Governado habilmente por Afonso Henriques, o Condado de Portucalense prosperava. Porém, nas questões de coração, o meu melhor amigo continuava confundido.

Minha prima Raimunda, sua amante há anos, morrera afogada nas aguas do Tejo, não sendo sequer possível recuperar o corpo para lhe proporcionar um enterro digno.

Sem ela por perto, o príncipe atirara-se em definitivo para os braços de Elvira. Mandava buscá-la a Lanhoso uma ou duas vezes por mês, e folgava com a Normanda.

Contudo, por melhor que fossem essas refregas, o seu coração continuava saudoso da galega e Elvira sabia disso.

Tenho aqui de reconhecer que a normanda tinha uma qualidade excelente: não só não era ciumenta, como estava perfeitamente consciente de que o coração do príncipe batia pela outra, e incentivava-o a visitar Chamoa na Maia, mesmo quando Paio Soares morria lentamente.

Porém, o orgulhoso príncipe, nunca seguiu tal conselho.

Quando, finalmente, Paio Soares faleceu, no início de Junho, Afonso Henriques recusou-se a ir às exéquias e esperou que fosse Chamoa a vir visitá-lo em Guimarães, oferendo-lhe o seu amor.

Elvira abanara a cabeça e comentara:

- Assim ireis perdê-la.

Chamoa não só nunca veio a Guimarães, como jamais o chamou a Maia, e a primeira notícia que dela teve depois da morte do marido, foi dada por minha esposa Maria: Chamoa iria entrar num mosteiro!

Odiando-se por não ter ouvido melhor as palavras sábias da sua amorosa amiga normanda, Afonso Henriques resolveu cavalgar depressa ao encontro da rapariga galega, e naquela tarde apresentou-se à porta do mosteiro de Vairão.

Foram Gonçalo, primeiro, e depois Zaida que me descreveram o que por lá se passou.

Além dos três filhos de Chamoa, estavam presentes o seu pai, Gomes Nunes, as mouras Zulmira, Fátima e Zaida, sua mãe Elvira e para grande surpresa do príncipe também o tio da rapariga, Fernão Peres de trava, bem como o primo dela, Mem Ramires de Tougues.

Irritado, Afonso Henriques exigiu falar a sós com Chamoa.

À porta do Mosteiro, a rapariga afastou-se dos familiares e ele logo lhe declarou:

 - Vou levar-vos para Guimarães comigo!

Apesar da viuvez, ela continuava linda, os seus cabelos cor de mel apanhados em tranças, enrolados pelas delicadas mãos de Zaida.

Prometi a meu marido que não me casaria convosco – afirmou.

Afonso Henriques abanou a cabeça, desagradado.

Não haveis nascido para monja!

Chamoa entristeceu-se e murmurou:

 - Não me conheceis tão bem assim...

O príncipe rebelou-se:

- A vossa tristeza vai passar, mas o vosso amor por mim vai durar!

Todavia, nos olhos verdes dela já não havia ternura do passado, só ressentimento e protestou com veemência:

 - Como posso amar quem não cumpriu o prometido? Não faleis de amor, pois vossas palavras são falsas!

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