sexta-feira, março 04, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 205




















O Trava revelou o seu desejo de cercar a cidade. Ao mesmo tempo, enviaria Paio Soares ao encontro de Afonso Henriques, para lhe sugerir uma paz apaziguadora entre mãe e filho.

Paio Soares estava perplexo mas o colóquio foi interrompido pela entrada na sala de uma criada, esbaforida, dizendo que Dona Teresa se preparava para dar à luz.

O Trava exclamou:

 - Ei-lo que chega, o futuro rei da Galiza!

Correu atrás da criada, dirigindo-se aos aposentos da rainha, deixando Paio Soares agitado. A seu lado, Ramiro murmurou:

- Tudo faz sentido.

Nascendo o varão desejado pelo Trava, o passo seguinte era a morte de Afonso Henriques, deduziu. Paio Soares seria o executor da traição, do ardil enganoso, atraindo o príncipe para fora do castelo de Guimarães, para os homens do Trava o poderem matar.

O Mordomo-Mor abanou a cabeça incrédulo.

Chamoa várias vezes me avisou das malévolas intenções do tio, mas nunca acreditei!

Desorientado perguntou a Ramiro:

 - E que faço eu? – Vou para Tui ter com Chamoa? O meu segundo filho também acabou de nascer!

Antes que o templário lhe pudesse dar a sua opinião, Fernão Peres de Trava regressou à sala e praguejou:

 - Falso alarme, o parto ainda demora!

Paio Soares ainda tentou sorrir dizendo que também tinha sido pai, uns dias antes, em Tui. Receoso, acrescentou:

 - Gostava de lá ir ver Chamoa e o meu novo menino. Juntava-me a vós em Guimarães.

Fernão Peres de Trava mirou-o, desconfiado e Paio Soares sentiu um arrepiu quando aqueles olhos frios encontraram os seus.

Tendes dúvidas, nobre Paio Soares? – perguntou o Trava.

O Mordomo negou prontamente qualquer hesitação e justificou-se com as saudades da esposa. Fernão Peres sorriu-lhe e concordou:

 - A minha sobrinha Chamoa é uma bela mulher!

Depois, o seu olhar gelou-se.

- Mas nobre Paio, vossa esposa tem quem a ajude.

Avançou até ao varandim de onde se via a cidade, o horizonte e o Mondego, e olhando para a torre, murmurou:


 - Meu pai sempre disse que se deviam pendurar os traidores no alto das torres, para todos virem o seu destino! 

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