(Domingos Amaral)
Episódio Nº 208
Depois, abanando a cabeça,
questionou-se:
- Onde já se viu um filho a lutar contra a mãe?
Ao escutá-lo, a experiente Zulmira
comentou que aquela guerra entre familiares próximos não devia surpreender
ninguém, pois os homens e as mulheres eram loucos em toda a parte, fossem
mouros ou cristãos, e ela já vira muitos filhos a fazerem a guerra a seus pais.
Nessa noite, segundo me
contou minha esposa, Chamoa estava muito agitada, apesar do voluntarismo que
revelara ao pai.
A proximidade da guerra
atormentava-a, e a incerteza sobre o resultado consumia-a.
Ao contrário do que dissera,
não tinha certezas de que Afonso Henriques fosse cumprir o que lhe prometera.
Conhecia-o bem, como ao
marido, e por isso andava de um lado para o outro, nervosa e angustiada, e
obrigou Elvira a levar os seus dois netos para o quarto, pois o frenesim da mãe
estava a contagiá-los, impedindo-os de adormecerem.
Depois, chamou Zulmira e
Zaida aos seus aposentos e só amainou quando bebeu um pouco de vinho na
companhia das mouras.
Sentindo-a com a alma
torturada, Zulmira relembrou-lhe que, em vez de desesperar, Chamoa devia era
preparar-se para a ida a Guimarães.
Seja para o vosso marido,
seja para o príncipe, tereis de estar bela.
Este apelo direito à vaidade
da rapariga surtiu efeito imediato e desviou-lhe as atenções dos medos que a
consumiam.
As mouras sugeriram então
que ela se despisse e se deitasse na cama, para que o seu corpo pudesse ser
untado com óleos e para que a pudessem massajar a quatro mãos, nas pernas, nos
braços, nas ancas e no peito.
Chamoa acalmou nos dedos
daquelas doces e atenciosas amigas.
Quando me descreveu esta
situação, minha esposa Maria, comentou:
- Chamoa é de excessos.
Tanto podia viver num harém como fechar-se num convento.
Guimarães, Junho de 1128
Dois cavaleiros, vestidos de
cota de malha, com capacetes e espadas à cinta, aproximaram-se da porta da
muralha de Guimarães, seguidos por um peão que segurava na mão uma lança com
uma bandeira branca no topo.
Cavalgavam a passo com os
ombros descaídos, como se não depositassem qualquer crença na sua missão.
Paio Soares, Mordomo – Mor de
Dona Teresa, e Peres Cativo, filho ilegítimo de Pedro Froilaz de Trava e,
portanto, meio irmão de Fernão Peres de Trava, embora se dirigissem ao encontro
de Afonso Henriques para lhe proporem a paz, não acreditavam na iniciativa.
Cada um pela sua razão,
estavam arrependidos do partido que haviam escolhido naquela guerra.
Os ambiciosos desejos de
Fernão Peres de Trava estavam a estilhaçarem-se de revés em revés. A sua grande
esperança de ser pai de um filho varão de Dona Teresa, um futuro herdeiro do
Condado Portucalense e talvez até do trono da Galiza, esboroara-se, pois à
rainha nascera mais uma rapariga, a quem chamaram Teresa.
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