quarta-feira, março 09, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 208


















Depois, abanando a cabeça, questionou-se:

 - Onde já se viu um filho a lutar contra a mãe?

Ao escutá-lo, a experiente Zulmira comentou que aquela guerra entre familiares próximos não devia surpreender ninguém, pois os homens e as mulheres eram loucos em toda a parte, fossem mouros ou cristãos, e ela já vira muitos filhos a fazerem a guerra a seus pais.



Nessa noite, segundo me contou minha esposa, Chamoa estava muito agitada, apesar do voluntarismo que revelara ao pai.

A proximidade da guerra atormentava-a, e a incerteza sobre o resultado consumia-a.

Ao contrário do que dissera, não tinha certezas de que Afonso Henriques fosse cumprir o que lhe prometera.

Conhecia-o bem, como ao marido, e por isso andava de um lado para o outro, nervosa e angustiada, e obrigou Elvira a levar os seus dois netos para o quarto, pois o frenesim da mãe estava a contagiá-los, impedindo-os de adormecerem.

Depois, chamou Zulmira e Zaida aos seus aposentos e só amainou quando bebeu um pouco de vinho na companhia das mouras.

Sentindo-a com a alma torturada, Zulmira relembrou-lhe que, em vez de desesperar, Chamoa devia era preparar-se para a ida a Guimarães.

Seja para o vosso marido, seja para o príncipe, tereis de estar bela.

Este apelo direito à vaidade da rapariga surtiu efeito imediato e desviou-lhe as atenções dos medos que a consumiam.

As mouras sugeriram então que ela se despisse e se deitasse na cama, para que o seu corpo pudesse ser untado com óleos e para que a pudessem massajar a quatro mãos, nas pernas, nos braços, nas ancas e no peito.

Chamoa acalmou nos dedos daquelas doces e atenciosas amigas.

Quando me descreveu esta situação, minha esposa Maria, comentou:

- Chamoa é de excessos. Tanto podia viver num harém como fechar-se num convento.



Guimarães, Junho de 1128



Dois cavaleiros, vestidos de cota de malha, com capacetes e espadas à cinta, aproximaram-se da porta da muralha de Guimarães, seguidos por um peão que segurava na mão uma lança com uma bandeira branca no topo.

Cavalgavam a passo com os ombros descaídos, como se não depositassem qualquer crença na sua missão.

Paio Soares, Mordomo – Mor de Dona Teresa, e Peres Cativo, filho ilegítimo de Pedro Froilaz de Trava e, portanto, meio irmão de Fernão Peres de Trava, embora se dirigissem ao encontro de Afonso Henriques para lhe proporem a paz, não acreditavam na iniciativa.

Cada um pela sua razão, estavam arrependidos do partido que haviam escolhido naquela guerra.

Os ambiciosos desejos de Fernão Peres de Trava estavam a estilhaçarem-se de revés em revés. A sua grande esperança de ser pai de um filho varão de Dona Teresa, um futuro herdeiro do Condado Portucalense e talvez até do trono da Galiza, esboroara-se, pois à rainha nascera mais uma rapariga, a quem chamaram Teresa.

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