Incluindo o ipicilone... |
Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 93
Somente uma semana depois Tieta regressou a Agreste,
atendendo exactamente a uma chamada de Zé Esteves, transmitindo apelo urgente
de dona Zulmira disposta a rebaixar o preço da casa, a entrar em acordo.
Três
dias, ou melhor três noites, durante as quais tia e sobrinho trocaram o
romântico areal das dunas pelo conforto do colchão de crina da cama de casal do
quarto do marujo.
Prosseguindo na educação do sobrinho, a lhe ensinar o bem – o bem e o
bom – o colchão chegara na hora exacta, quando atingiam um estágio superior no
estudo da matéria em que
Tieta era mestra competente, emérita catedrática, honoris
causa, como dizia em latim o padre Mariano.
Ensinava-lhe em aulas práticas e
intensivas quanto sabia, ou seja, tudo, o alfabeto inteiro, incluindo o
ipicilone.
Tieta voltou a Agreste na manhã do dia do primeiro desembarque dos
seres de espanto projectados do espaço, mas não os viu e deles só veio a ter
noticias no fim da tarde por Ascânio exaltado, no auge do entusiasmo:
- Capitalistas do Sul, estudando a possibilidade de empregar capital aqui , no município, em empresas de turismo, coisa de
grande vulto, querem asfaltar a estrada e construir hotéis.
Que lhe parece dona
Antonieta? Que diz a isso Leonora?
Empresa de turismo? Em Agreste, aproveitando água, o clima, a praia de
Mangue Seco?
Quem sabe, tudo é possível, por que não?
Fizera bem em comprar
terreno na praia, devia aceitar a proposta de dona Zulmira, abandonando a
posição intransigente, os preços da terra e dos imóveis podem sofrer súbita
valorização, em São Paulo ,
Tieta, assistiu a coisas de espantar.
Com seu faro único, Felipe adqui riu a preço de banana terrenos e mais terrenos em
áreas pelas quais ninguém oferecia nada. Poucos anos depois, ganhava fortunas
na revenda.
Tieta pediu a Perpétua papel e caneta, escreveu um bilhete a dona
Zulmira fechando o negócio, mandou Peto levar.
Decidiu demorar-se em Agreste o tempo necessário para concluir o trato,
lavrar escritura, tomar posse da casa. Mesmo sentindo o apelo ardente do corpo
a reclamar a urgência do retorno, sabendo que o moço sofreria o fogo do inferno
na noite insone, ainda assim resolveu cuidar antes do negócio.
Aprendera a não
perder a cabeça, a não permitir que xodó, por mais forte e exaltante lhe
causasse prejuízo.
Ascânio prosseguia a traçar as vias do radioso futuro do Agreste. A
mudança começara com a chegada das duas paulistas à cidade, tudo se fazendo
agora mais fácil, devido à decisão da Companhia do Vale de São Francisco de
incluir Agreste entre os municípios com a energia de Paulo Afonso, a Luz de Tieta.
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