Nicolau... um homem realizado. |
Nicolau Breyner
Nicolau nasceu no ano a seguir ao meu e desde
1975, com o Sr. Contente e o Sr. Feliz, fomo-nos encontrando ao longo de mais
de 40 anos, embora nunca o tivesse visto pessoalmente.
Milagres da televisão que nos mete as pessoas
lá em casa e as torna íntimas sem nunca nos terem sido apresentadas.
Nicolau, ontem falecido, leva consigo uma vida
cheia, plena de emoções, de sucessos, aplausos, de amores, porque nasceu com uma boa
“estrela” e talvez não tenha vivido mais tempo só porque a estrela terá sido
demasiado boa para o seu coração.
Mas quem pode lamentar um homem que foi tudo aqui lo que o Nicolau foi, por mérito próprio, por ter
nascido predestinado?
Viveu quase 76 anos? – Não, viveu muito mais...
Qualquer um de nós, cidadão normal, precisaria
de várias vidas, muitos 76 anos, para poder levar desta existência, o montão de emoções, boas emoções, que ele arrecadou, e a vida, queridos
amigos, são emoções, afectos, paixões, ... o resto pertence ao mundo animal de que fazemos parte.
A mãe de Jorge Amado, o melhor escritor,
contador de histórias na língua que é a minha, dizia que o filho tinha nascido
sob o signo de uma boa estrela.
A mãe de Nicolau também poderia ter dito o
mesmo relativamente ao seu filho. Talvez não tenha sido tão bom actor como Jorge
Amado foi escritor mas suplantou-o no resto, na vivência, no mundanismo, nos
afectos e nos amores.
Nicolau terá vivido tudo quanto havia para
viver e embora as vidas sejam sempre curtas, os seus 76 anos terão sido
suficientes para lhe tomar o gosto.
Por muito que a medicina nos vá prolongando a
existência o ciclo mantém-se: nascer, crescer, envelhecer e morrer.
Quantos portugueses se poderão gabar de serem
tão recordados pela sua vida e pela de tantos personagens que ele interpretou
magistralmente e lhe ficaram colados?
Quem, de nós, terá sido tão acarinhado quanto
ele por amigos e mulheres apaixonadas?
Terá sido Nicolau, por tudo isso, um homem mais
feliz?
– Tenho dúvidas, mas deixando de lado o terreno
escorregadio da felicidade e nos ficarmos pelo mundo dos afectos aí, sim,
Nicolau levou a parte de leão.
Desgostou-me a morte de Nicolau, estávamos
muito próximos no nascimento, e havia muito dele em humanismo, que me era comum e a todos nós, os do seu tempo, os da minha geração.
Amanhã, Nicolau, será a minha vez...
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