(Domingos Amaral)
Episódio Nº 242
Desiludida e triste, Zaida,
observou o corpo de Zulmira e murmurou.
- Não foi um cristão que matou a nossa mãe.
Fátima ficou momentaneamente
entupida e a irmã prosseguiu:
- O assassin era muçulmano. E foi um príncipe cristão que impediu que
ele vos degolasse!
De imediato, Fátima colocou
nova careta desdenhosa e provocando-a:
- Em agradecimento, aposto
que ides abrir as pernas para ele!
Zaida abanou a cabeça
desolada.
Não sei porque o odiais,
nunca vos fez mal.
Indignada, Fátima exclamou:
- É cristão e basta! Só isso me faz revirar as
tripas!
Zaida ficou uns momentos em
silêncio e depois disse:
- Parece-me um homem forte e gentil.
Mas logo Fátima deu uma
pequena gargalhada e escarneceu:
- A vós, qualquer homem vos
parece bom!
A irmã encolheu os ombros e
disse, comovida:
- Nossa mãe ensinou-me a ser meiga e
ternurenta, tal como ela era. Com os homens e com as mulheres.
Desdenhosa e sempre implacável,
Fátima relembrou:
- Isso vi eu! Nunca percebi porque nossa mãe
se entregou assim ao Mem ou à galega!
Em defesa da memória da mãe,
Zaida contrapôs:
- Porque se sentia sozinha e precisava de ser
amada! E perante o silêncio da irmã, recordou as origens de ambas.
- Esses eram os costumes de
Sevilha, onde o nosso avô Al-Mutamid reinou. Ou dos haréns de Córdova! Somos
mulheres de paixão, de amor, de poesia, de sentimentos e sentidos.
Não somos mulheres de
guerra... Sou como a minha avó Zaida, não herdei só o seu nome.
Cada vez mais enervada,
Fátima ripostou-lhe com desprezo:
- Essa enganou o marido com um núbio! E depois
casou-se com um rei cristão, de quem teve um filho. Cometeu a maior traição,
converteu-se ao deus deles só para poder chupar a piça ao imperador!
- É isso que quereis também?
Zaida respirou fundo e muito
calma respondeu:
- E que mal teria? O sonho de Afonso VI, o
império das Duas Religiões! Porque não? Nós, os muçulmanos de Andaluzia, de Córdova,
Badajoz, Saragoça e Sevilha, somos mais parecidos com os cristãos do que com os
berberes de Marraquexe!
Preferia, mil vezes beijar a
mão a Afonso Henriques do que a Ali Yusuf!
Ao ouvi-la falar assim, a
maliciosa Fátima logo adiantou:
- A mão e não só!
Desesperada, Zaida, tapou a
cara com as mãos
- Só pensais em luta, em guerra! Não gostais
de sentir o calor de um corpo ao vosso lado? Precisamos de amor...
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