Creio que o problema maior de Dilma foi, de facto, o reconhecimento por parte da sociedade, intra e extra-muros, de que ela não tinha jeito, vocação ou habilidade para a governação, além das “pedaladas fiscais”, expediente financeiro utilizado pelo Governo federal assente no atraso deliberado (mas dissimulado) dos pagamentos devidos às entidades públicas a fim de manipular as contas públicas, o problema maior de Dilma foi o fosso social que ela veio a agravar entre os ricos, muito ricos e os pobres e muito pobres brasileiros.
Na raiz desse problema estão as políticas públicas seguidas,
especialmente as que tinham dimensão e efeito social imediato.
Depois, a recuperação política que ela fez de Lula da Silva,
chamando-o para a chefia da Casa Civil, na esperança de se salvar
politicamente, teve um efeito de boomerang na imagem governação, e quer Dilma
quer Lula da Silva, envolto em casos de corrupção e ocultação de património,
acabaram por ver as suas posições conjuntas ainda mais enfraquecidas junto da
sociedade brasileira. Quer os actores políticos, quer as instituições do Estado
sob seu comando, perderam autoridade e legitimidade à luz da opinião
pública.
O resto é luta política de rua e, claro, da feroz oposição nos
corredores do poder. A destituição foi aprovada por 367 deputados, suplantando
os 342 deputados necessários na Câmara dos Deputados para assegurar aquela
destituição.
O debate político no Brasil, hoje, não existe. O que existe são
ameaças e acusações de traições mutuas, ou seja, entre o Governo e os deputados
da oposição que querem a deposição de Dilma.
Uma vez o Governo derrotado na Câmara dos Deputados a luta
política é transferida para a Câmara Alta, i.é, para o Senado que tem agora a
"chave" da solução na mão.
Ninguém quer perder, e, como tal, mesmo os que querem a
manutenção de Dilma no Governo, com receio de ficarem isolados diante da
derrota futura, passam-se para a oposição à última da hora. Fazem-no por medo
de isolamento político futuro, por chantagem política ou ainda pela promessa de
recompensa de cargos, dinheiro e vantagens várias. Ou seja, não existe mais
transparência política no Brasil, toda a gente, ou quase toda a gente que conta
politicamente, é corrupt a ou corrupt ível, circunstância que não abona aqueles que são
hoje oposição e que se perfilam para ser poder amanhã.
Diante de toda esta confusão, ameaças políticas, corrupção
generalizada talvez fosse preferível censurar Dilma e exigir dela políticas
públicas com mais dimensão social e esperar até às eleições gerais de 2018,
momento em que o povo brasileiro seria chamado a renovar a sua democracia, que
hoje se encontra seriamente doente, e que este processo de destituição de Dilma
também não é a cura.
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