Tieta do Agreste
(Jorge Amado)
EPISÓDIO Nº 126
- Está aborrecida, Tieta? Se fiz mal em contar, me diga.
- Fez muito bem, Carmô. Estava pensando no cachorro do noivo. E com Elisa, você falou também?
Não, com Elisa dona Carmosina não conversara, tentando tirar-lhe da cabeça a louca ideia de partir com Tieta para São Paulo, levando Astério na bagagem.
Não, com Elisa dona Carmosina não conversara, tentando tirar-lhe da cabeça a louca ideia de partir com Tieta para São Paulo, levando Astério na bagagem.
Depois do difícil diálogo com Ascânio, ainda não tomara fôlego, não reunira coragem suficiente para vibrar novo golpe. A decepção de Elisa ia ser terrível, ela não tinha a fibra de Ascânio, provado pela doença do pai e pela traição de Astrud. Tieta devia pacientar um pouco, dona Carmosina falaria quando se apresentasse a ocasião, quando a própria Elisa puxasse o assunto. Deixasse a pobre conservar por mais uns dias as suas ilusões paulistas.
Quem porém tocou nesse assunto, foi Astério, e o fez com Tieta quando ela voltou a Agreste. Ficou de tocaia no bar, sonsando, até Perpétua dirigir-se para a Igreja em companhia do filho seminarista, na hora da bênção. Aproveitou a folga:
- Queria falar com você, cunhada. Um assunto do meu interesse, meu e de Elisa. Mas antes me prometa guardar reserva dessa nossa conversa.
- Toque em frente cunhado, sou boa de segredo, nem imagina quantos guardo no peito, por isso é que tenho esse urbe grande. – Ri alegremente, anda satisfeita.
- É a propósito de uma ideia de Elisa. Ela, se ainda não lhe falou, vai lhe falar para pedir que leve a gente para São Paulo. Que me arranje um emprego e ceda um cómodo para nós em seu apartamento.
- Falar ainda não falou mas já insinuou. Você quer ir?
- Deus me livre! – Arrepia carreira, não vá Tieta se ofender: - Quer dizer: - eu teria muito prazer em morar em sua companhia, você é mais do que uma irmã, tem sido nossa providência. Mas eu não quero viver em São Paulo, não vou me dar bem. Elisa tem vontade de ir embora daqui para que a gente melhor a vida mas eu sei que não vai dar certo. É pior ser pobre lá do que aqui.
- Você tem razão, cunhado, é isso mesmo. Mas pode ficar descansado, não vou levar vocês comigo. Você ia se dar mal e lugar de mulher é ao lado do marido. Se Elisa me falar, tiro essa ideia da cabeça dela.
- Não sei como lhe agradecer, cunhada.
- Não agradeça. Elisa é minha irmã, tenho obrigação de cuidar dela, de ajudar vocês no que puder. Mas aqui, lá não.
Em toda a sua vida, poucas vezes Tieta vira pessoa tão contente quanto Astério ao fim da conversa. Fitou o cunhado com afecto:
- Ouça, Astério, você precisa não deixar Elisa fazer tudo que deseja. Se ela lhe falar em São Paulo, diga que você não quer ir, que daqui vocês não saem. Ponha rédea curta em sua mulher.
- Se eu disser isso, só vou botar ela contra mim. Vai bater o pé, chorar, falar nisso o dia inteiro, até me obrigar. Como é que posso convencer ela?
- Pergunte ao Velho Zé Esteves e ele lhe explica. Pergunte como é que ele ensinou a mãe de Elisa a obedecer. Quem sabe, ele lhe empresta o bordão. A receita é boa, cunhado. Bem aplicada, basta uma vez. Nunca mais mãe Tonha levantou a voz para o Velho. Quanto a essa história de São Paulo deixe comigo.
De noite, Tieta teve Ricardo na rede conforme desejara. Ali, onde em sonhos o rapazola a desejara e não soubera possui-la, ela o cavalgou e por ele foi montada, cruzando a noite no rumo da aurora. Contendo a respiração, sufocando os ais de amor enquanto juntos praticavam o ipicilone. Ah!, o ipicilone!
Quem porém tocou nesse assunto, foi Astério, e o fez com Tieta quando ela voltou a Agreste. Ficou de tocaia no bar, sonsando, até Perpétua dirigir-se para a Igreja em companhia do filho seminarista, na hora da bênção. Aproveitou a folga:
- Queria falar com você, cunhada. Um assunto do meu interesse, meu e de Elisa. Mas antes me prometa guardar reserva dessa nossa conversa.
- Toque em frente cunhado, sou boa de segredo, nem imagina quantos guardo no peito, por isso é que tenho esse urbe grande. – Ri alegremente, anda satisfeita.
- É a propósito de uma ideia de Elisa. Ela, se ainda não lhe falou, vai lhe falar para pedir que leve a gente para São Paulo. Que me arranje um emprego e ceda um cómodo para nós em seu apartamento.
- Falar ainda não falou mas já insinuou. Você quer ir?
- Deus me livre! – Arrepia carreira, não vá Tieta se ofender: - Quer dizer: - eu teria muito prazer em morar em sua companhia, você é mais do que uma irmã, tem sido nossa providência. Mas eu não quero viver em São Paulo, não vou me dar bem. Elisa tem vontade de ir embora daqui para que a gente melhor a vida mas eu sei que não vai dar certo. É pior ser pobre lá do que aqui.
- Você tem razão, cunhado, é isso mesmo. Mas pode ficar descansado, não vou levar vocês comigo. Você ia se dar mal e lugar de mulher é ao lado do marido. Se Elisa me falar, tiro essa ideia da cabeça dela.
- Não sei como lhe agradecer, cunhada.
- Não agradeça. Elisa é minha irmã, tenho obrigação de cuidar dela, de ajudar vocês no que puder. Mas aqui, lá não.
Em toda a sua vida, poucas vezes Tieta vira pessoa tão contente quanto Astério ao fim da conversa. Fitou o cunhado com afecto:
- Ouça, Astério, você precisa não deixar Elisa fazer tudo que deseja. Se ela lhe falar em São Paulo, diga que você não quer ir, que daqui vocês não saem. Ponha rédea curta em sua mulher.
- Se eu disser isso, só vou botar ela contra mim. Vai bater o pé, chorar, falar nisso o dia inteiro, até me obrigar. Como é que posso convencer ela?
- Pergunte ao Velho Zé Esteves e ele lhe explica. Pergunte como é que ele ensinou a mãe de Elisa a obedecer. Quem sabe, ele lhe empresta o bordão. A receita é boa, cunhado. Bem aplicada, basta uma vez. Nunca mais mãe Tonha levantou a voz para o Velho. Quanto a essa história de São Paulo deixe comigo.
De noite, Tieta teve Ricardo na rede conforme desejara. Ali, onde em sonhos o rapazola a desejara e não soubera possui-la, ela o cavalgou e por ele foi montada, cruzando a noite no rumo da aurora. Contendo a respiração, sufocando os ais de amor enquanto juntos praticavam o ipicilone. Ah!, o ipicilone!
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