terça-feira, maio 10, 2016

Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador

A Profecia da Normanda



Episódio Nº 3















A visada protestou. Aquela bela e graciosa mulher, de cabelos negros e tremendo bom senso, cuja perna era curta mas a mão dotada para os repastos, logo alegou que todos tinham comido as suas iguarias e mais ninguém se queixara.

Decerto, Chamoa estava ainda frágil devido à apressada fuga do Mosteiro de Vairão, pagando o preço de tamanha ousadia, perorou Teresa de Celanova.

Infelizmente, também ela estava equivocada. Algum tempo depois do curandeiro chegar, Maria veio à sala e pediu ao meu melhor amigo que a acompanhasse.

Nesse momento, pressenti que algo estava errado, pois minha mulher apresentava-se demasiado pálida. Levantei-me também e acerquei-me dela, enquanto Afonso Henriques caminhava na direcção do curandeiro.

- Está de esperanças... – murmurou a minha Maria.

Uma tonta euforia invadiu-me, o meu melhor amigo ia ser pai!

Com o desconhecimento que os homens sempre têm do misterioso funcionamento das entranhas femininas, julguei que naqueles curtos sete dias acontecera um milagre de gestação e Chamoa esperava um rebento concebido em Guimarães.

No entanto, Maria Gomes esmagou as minhas tolas expectativas e murmurou.

 - Não é dele.

As minhas ideias baralharam-se, ao mesmo tempo que olhava para a cara do meu melhor amigo, uns metros à minha frente, a falar com o curandeiro, percebendo que também o príncipe estava confundido, enquanto o indivíduo, esfregando as mãos, lhe dizia com um sorriso cúmplice, certo que falava com o autor da proeza:

 - Já está prenha há mais de dois meses!

Músculo a músculo, vi o rosto de Afonso Henriques desfigurar-se, torcendo-se de tensão e de incredulidade. Era como se uma fúria imensa, uma colossal tempestade, se estivesse a gerar dentro dele.

Eu conhecia os seus célebres acessos de cólera, era capaz de partir os móveis de uma sala a pontapés e até de matar alguém.

Aterrado, decidi intervir, criticando o curandeiro:

 - Que disparate dizeis?

Atrapalhado, o homem justificou-se: algures em Setembro, a rapariga concebera, mas a sua saúde estava forte, seria certamente uma gravidez bem sucedida, como haviam sido as três anteriores.

Vi Afonso Henriques cerrar os olhos e virar-se de costas para o atarantado curandeiro, que nada percebia. Ainda era duro para o meu amigo ouvir falar nos três filhos que Chamoa tivera de Paio Soares e senti que a qualquer momento se daria a sua explosão de raiva, por isso dei ordens ao curandeiro para se afastar.

Depois, calmamente, esperei. E a tempestade veio.

De olhos semicerrados, com um esgar de sofrimento estampado no rosto, possuído por um desvario próximo da loucura, como se me olhasse sem me ver, Afonso Henriques rosnou:

 - Como é isto possível? Com quem me traiu ela?

Chamoa estivera ano e meio no Mosteiro de Vairão, supostamente reclusa. Com quem dormira?                                                  


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