quarta-feira, maio 25, 2016

Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador






Episódio Nº 16














Coimbra. Páscoa de 1131



Mal nos afastámos da Sé, fomos surpreendidos pela aparição inesperada da princesa Zaida, que saía do edifício pela porta lateral da biblioteca.

Era conhecido o gosto da rapariga pelas leituras e no antes, sua mãe Zulmira, chegara a temer que tanto entusiasmo pelos Testamentos fosse uma predisposição por uma futura mudança de religião.

Nada mais longe da verdade: Zaida não tencionava converter-se a Cristo, era uma curiosidade infinita pelas histórias de um passado que o Islão e a Cristandade partilhavam.

Ao vê-la surgir, Gonçalo exclamou, animado.

 - Zaida, minha amada, finalmente encontro-vos! É hoje que casamos?

A rapariga desatou a rir e todos nos congratulámos secretamente por vê-la de novo alegre.

Já haviam passado quase dois anos sobre a tenebrosa morte de sua mãe, Zulmira, mas durante muito tempo ninguém vira aquela bonita moura sorrir.

Roliça e vivaça era dotada de uns olhos negros brilhantes que faziam estremecer o coração de qualquer homem, e deslocava-se sempre num passo dançarino e saltitante que conferia beleza a um corpo bem desenhado e redondo.

Simpática, afável e carinhosa, era uma menina dada a todos, homens e mulheres, mas sabíamos que nunca fora usada por ninguém, guardando-se como se fosse um tesouro valioso.

 - E levais-me para Córdova? – ripostou ela.

A pergunta da rapariga trazia um luminoso sorriso associado, mas ao ver Afonso Henriques o seu riso diminuiu de intensidade e com a clareza com que sempre revelava as suas opiniões, Zaida declarou:

- Chamoa não merecia ser escorraçada! Errou, mas ama-vos!

As duas eram muito amigas há vários anos e a moura não esquecia as suas lealdades. Só que o príncipe não gostou que lhe recordassem o que pretendia esquecer e resmungou irritado:

 - Se desejardes, ide até Tui deitar-vos na cama com ela! E se lá encontrares o Mem Tougues, enviai-lhe os meus cumprimentos!

A antiga insinuação de que Zaida e Chamoa dormiam juntas e se banhavam juntas no rio pairou sobre nós, mas Gonçalo defendeu-a:

 - A Zaida vai para Tui? Só por cima do meu cadáver!

Os olhos da moura brilharam o que teve o condão de enervar mais o príncipe, que logo esporeou o cavalo, afastando-se a trote, enquanto Zaida ouvia a voz de sua mãe:

 - Filha, não o zangueis...

Na companhia de meu tio, segui o meu melhor amigo, mas reparei que Gonçalo permanecia junto à princesa de Córdova. Pelo canto do olho vi-o desmontar, mas o que se passou de seguida só o soube tempos mais tarde, quando Zaida mo relatou.

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