sábado, maio 14, 2016

Barrigas de Aluguer

















A Assembleia Nacional aprovou legislação que permite as “barrigas de aluguer”, ou seja, mulheres que, por exemplo, não têm útero -  há as que nascem sem ele, improvável mas pode acontecer -  embora possuam em perfeitas condições a parte restante do seu aparelho reprodutivo. Numa situação destas, é tecnicamente possível recorrer a uma barriga de aluguer, muitas vezes acontece ser uma irmã, onde é depositado o óvulo fecundado para aí se desenvolver.

É o aproveitamento de técnicas científicas a favor de uma maternidade que não aconteceria sem o recurso a esta técnica.

Para mim, para muitas pessoas, e para a maioria dos nossos deputados, pareceu-nos bem. Se a técnica existe, se permite a concretização de um anseio de que depende a felicidade de uma pessoa ou de um casal, porque razão não o utilizar?

Contudo, não pareceu bem ao Sr. Padre Feytor Pinto, distinto representante do nosso clero, ex-coordenador da Pastoral da Saúde porque, segundo afirma, vai contra a ética, subentende-se que religiosa, embora, para o Sr. Padre, não haja outra.

A presença da Igreja católica é indispensável em dois momentos essenciais da vida humana: nascimento e morte.

São momentos cruciais que marcam a sua importância para o resto da vida, neste mundo e no outro, e aos quais a igreja não pode faltar para que o exercício do seu poder de influencia junto dos crentes se exerça em toda a sua plenitude.

A Igreja católica, ciosa desse seu poder, tem sido contra todos os avanços científicos que “mexam” com o nascimento e a morte, indo ao ponto de, em tempos, ser contra as vacinas porque entendia que a vida pertence a Deus e só ele tinha poderes para dispor dela., prolongado-a ou encurtando-a.

Mais recentemente, o uso de preservativos também não era aceite pela doutrina religiosa por razões idênticas, embora seja reconhecido, de há muito, que o controle da natalidade em sociedades pobres e atrasadas nas quais, mais filhos, significa mais fome e miséria social e humana, seja indispensável, chegando-se ao ponto do exagero dos chineses com a política do filho único que conduziu à falta, hoje, de raparigas em idade de casar, porque os pais preferiam rapazes.

Depois, mais tarde e por vergonha perante os seus próprios seguidores, para evitar o que seria um clamor público acaba por aceitar esses avanços da ciência que são em prol da qualidade da vida das pessoas.

Para a Igreja, um homem é sempre um homem “macho” e deve comportar-se como tal, ou então não se comporta, abstêm-se, procurando, para isso, força nos confessionários pelo recurso à sua fé em Deus.

Quanto à mulher, é exactamente o mesmo, idem, idem, aspas, aspas.

Condenando os casamentos homossessuais, o que a igreja defende é uma descriminação dos sexos em que uns podem fazer uma coisa e outros não, na linha dos filhos nascidos em barriga de aluguer que vão contra a ética, de acordo com o Sr. Padre Feytor Pinto.

Quem não respeitar estas regras e desobedecer viverá em pecado, em conflito permanente com a sua religião, pondo em causa permanentemente a sua estabilidade de crente e o seu futuro neste mundo e no outro. A ameaça de castigo, a instalação do medo é a grande arma das religiões.

O Pai Divino não exerce o seu poder só para o bem, ele tem os seus critérios e, como qualquer pai, também castiga e, por vezes, de forma incompreensível...

Lembram-se do terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1775, à hora em que toda a gente estava a rezar nas igrejas, matou mais de 60.000 pessoas, destruiu a cidade, e fez perceber que afinal, ou a lógica era uma batata, ou Deus não queria saber de nós para nada, pelo menos dos lisboetas...

Será esta a ética a que se refere o Sr. Padre, a ética religiosa, ou a outra que diz que a vida deve resultar de dois gâmetas unidos desde a sua fusão até ao nascimento da criança, ou então não há criança?

Claro que há dificuldades a ultrapassar. O ideal é que todos os casais pudessem ter os filhos que quisessem de forma natural mas que isso não sirva de desculpa...

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