quarta-feira, junho 01, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 21



















E agora de surpresa convidava-o para dividir o leito? O susceptível Mem Tougues logo ali prometeu dedicar-se para sempre à sua amada.

Mal na sala se notou esta breve junção, nasceram sorrisos, sobretudo em Fernão Peres, por saber que finalmente Chamoa substituía Afonso Henriques.

Só um único par de olhos se atormentou. Pêro Pais não entendeu as ternuras dadas pela mãe a Mem Tougues e Chamoa teve de explicar-lhe, antes de o deitar, as suas intenções.

- Preciso de saber o que planeiam contra Afonso Henriques.

Pêro Pais desviou o olhar. Desapontado, resmungou:

 - Não gosto de Mem Tougues!

Depois de um suspiro a mãe garantiu-lhe:

 - Nem eu, meu querido filho. Vou ter de beber muito vinho.

Quando regressou ao convívio com os adultos, Chamoa esvaziou de seguida três vasos de tinto galego. Por isso, o seu espírito já estava solto quando pegou na mão do primo e o conduziu para o quarto.

Nas suas costas, Fernão Peres inchou de contentamento. A notícia não demorou muito a chegar a Guimarães...

Já na cama Chamoa pediu a Deus que não engravidasse pela quinta vez. Não estava em época frutuosa, mas era fértil como uma coelha e temia uma partida.

Despiu-se e venceu a ligeira repugnância que o primo lhe provocava.

A causa é boa.

Perante o frenesim dele, que quis repetir a dose, chegou mesmo a sentir prazer. Não havia volta a dar, gostava mesmo do sentimento animal que a invadia, do descontrole dos sentidos, da presença inebriante de um macho em cima dela.

Mas não era amor, nada que se parecesse com o que sentira um ano antes com Afonso Henriques. Não era sequer o sentimento de respeito, lealdade e companheirismo que devotara a seu marido, Paio Soares.

Sou uma desvairada.

Terminado o reboliço físico, passou ao objectivo essencial do exercício e ficou a saber que Fernão Peres de Trava ia enviar uma companhia de soldados galegos para as margens do rio Nabão, com o propósito de encontrar a relíquia.

O tio queria oferecê-la a Afonso VII, rei de Leão e Castela, impedindo Afonso Henriques de lhe deitar a mão.

Mais grave ainda, o Tougues revelou que entre os templários do Soure havia um traidor, a soldo do Trava! O primo não sabia o nome de tal indivíduo, mas agitação interior de Chamoa foi imensa e imediata a vontade de informar o seu adorado príncipe.

Na manhã seguinte dirigiu-se a um pombal, levando pela mão o filho Pêro Pais. Preparava-se para enviar uma mensagem, quando apareceu Fernão Peres, que a questionou:

 - Sobrinha Chamoa, a quem ides enviar um pombo?

Ela corou atrapalhada enquanto o Trava sentenciava:

 - Trair a família é grave pecado.

A minha cunhada manteve-se calada, de mão dada com o menino. O tio tinha fama de cruel, embora o seu aspecto nobre levasse ao engano.

O Trava era um homem bonito e alto, que transmitia segurança e solidez de propósitos, mas escondidos dentro das suas dalmáticas roxas existiam agravos antigos e desejos de vingança permanentes, bem como ambições vastas a que só a sua torta, mas fulgurante inteligência, permitia aspirar

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