(Domingos Amaral)
Episódio Nº 21
E agora de surpresa convidava-o
para dividir o leito? O suscept ível
Mem Tougues logo ali prometeu dedicar-se para sempre à sua amada.
Mal na sala se notou esta
breve junção, nasceram sorrisos, sobretudo em Fernão Peres , por
saber que finalmente Chamoa substituía Afonso Henriques.
Só um único par de olhos se
atormentou. Pêro Pais não entendeu as ternuras dadas pela mãe a Mem Tougues e
Chamoa teve de explicar-lhe, antes de o deitar, as suas intenções.
- Preciso de saber o que
planeiam contra Afonso Henriques.
Pêro Pais desviou o olhar.
Desapontado, resmungou:
- Não gosto de Mem Tougues!
Depois de um suspiro a mãe
garantiu-lhe:
- Nem eu, meu querido filho. Vou ter de beber
muito vinho.
Quando regressou ao convívio
com os adultos, Chamoa esvaziou de seguida três vasos de tinto galego. Por
isso, o seu espírito já estava solto quando pegou na mão do primo e o conduziu
para o quarto.
Nas suas costas, Fernão
Peres inchou de contentamento. A notícia não demorou muito a chegar a
Guimarães...
Já na cama Chamoa pediu a
Deus que não engravidasse pela qui nta
vez. Não estava em época frutuosa, mas era fértil como uma coelha e temia uma
partida.
Despiu-se e venceu a ligeira
repugnância que o primo lhe provocava.
A causa é boa.
Perante o frenesim dele, que
qui s repetir a dose, chegou mesmo a
sentir prazer. Não havia volta a dar, gostava mesmo do sentimento animal que a
invadia, do descontrole dos sentidos, da presença inebriante de um macho em
cima dela.
Mas não era amor, nada que
se parecesse com o que sentira um ano antes com Afonso Henriques. Não era
sequer o sentimento de respeito, lealdade e companheirismo que devotara a seu
marido, Paio Soares.
Sou uma desvairada.
Terminado o reboliço físico,
passou ao objectivo essencial do exercício e ficou a saber que Fernão Peres de
Trava ia enviar uma companhia de soldados galegos para as margens do rio Nabão,
com o propósito de encontrar a relíqui a.
O tio queria oferecê-la a
Afonso VII, rei de Leão e Castela, impedindo Afonso Henriques de lhe deitar a
mão.
Mais grave ainda, o Tougues
revelou que entre os templários do Soure havia um traidor, a soldo do Trava! O
primo não sabia o nome de tal indivíduo, mas agitação interior de Chamoa foi imensa
e imediata a vontade de informar o seu adorado príncipe.
Na manhã seguinte dirigiu-se
a um pombal, levando pela mão o filho Pêro Pais. Preparava-se para enviar uma
mensagem, quando apareceu Fernão Peres, que a questionou:
- Sobrinha Chamoa, a quem ides enviar um
pombo?
Ela corou atrapalhada
enquanto o Trava sentenciava:
- Trair a família é grave pecado.
A minha cunhada manteve-se
calada, de mão dada com o menino. O tio tinha fama de cruel, embora o seu
aspecto nobre levasse ao engano.
O Trava era um homem bonito e alto, que transmitia segurança e solidez
de propósitos, mas escondidos dentro das suas dalmáticas roxas existiam agravos
antigos e desejos de vingança permanentes, bem como ambições vastas a que só a
sua torta, mas fulgurante inteligência, permitia aspirar
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